domingo, 23 de agosto de 2015

Holmes: Capítulo 4


Um socorro nada imediato

A
lastor Olsen. ‒ Falou Sherlock enquanto deixávamos o Palácio do Parlamento. ‒ Watson, procuramos por um rapaz, provavelmente jovem, com o nome Olsen. Tem alguma ideia que possa nos ajudar?
Eu não tinha nenhuma. Fiquei quieto e tentei pensar por mais alguns minutos.
‒ Watson! Por favor. A senhora que conhecemos mais cedo. Sra. Edengard.
‒ Achei que procurávamos por um Olsen. ‒ Conclui.
‒ E qual era mesmo o nome do inquilino da casa dela?
‒ Walter... Olsen! Mas como ter certeza de que este é o garoto?
‒ Ponha seu cérebro lento para funcionar, meu amigo. Allan Winston Jones foi fotografado e no, fundo da foto, um Olsen aparecia. Sabemos que Walter mora na casa ao lado da de Allan. Faz todo o sentido que o serviço de segurança tenha tentado tirar uma foto de Allan saindo de sua casa e ao fundo, seu vizinho apareceria passando pela rua e carregando alguma coisa que o delatou como o ladrão dos restos mortais de Alastor Olsen!
Corremos de volta para a rua de Allan e Walter. Lestrade fez questão de nos acompanhar e nenhum dos dois recusou a ajuda do policial. Se a situação fugisse de controle, seria interessante ter alguém com permissão para atirar e salvar nossas vidas. Não que eu imaginasse que Sherlock não seria capaz disso, mas eu tinha certeza de que, se Lestrade puxasse o gatilho, o risco seria muito menor.
Sra. Edengard gemeu quando nos reconheceu, mas prometemos a ela que nada de errado aconteceria com ela. Perguntamos se Walter Olsen estava em casa e ela disse que ele tinha saído mais cedo para trabalhar no jornal. Avançamos com muita velocidade em direção ao novo endereço e, quando chegamos por lá, uma grande movimentação na porta de saída. Nenhum ferido e nenhum sinal de fogo, mas muitas pessoas assustadas com alguma coisa. Mulheres e homens de todas as idades gritavam e de longe pude ouvir uma senhora gritando: “Um barulho de tiro. Eu ouvi sim. Vinha do jornal.”
Troquei um olhar com Sherlock e corremos para dentro do prédio. Lestrade correu atrás de nós. Não seria difícil identificar a posição do atirador. Provavelmente viria de onde todas as pessoas corriam. Fomos seguindo o fluxo inverso até encontrarmos Mycroft brigando corpo a corpo com um rapaz de menos idade, supus que fosse Walter Olsen. Era a primeira vez que eu via Mycroft Holmes em um embate físico.
‒ Walter Olsen, coloque a arma no chão e levante os braços já!‒ Gritou Lestrade com a arma em punho.
Sherlock continuava parado observando a paisagem. Tentei imaginar alguma coisa para poder ajudar Mycroft, mas não conseguia pensar em nada. Notei que o olhar de Walter não era o de um criminoso, mas o de uma pessoa muito assustado. Na certa, nunca deve ter pensado no que suas ações o levariam a fazer. Mycroft, por outro lado, ostentava a mesma expressão inabalável e rígida. Nem um sorriso. Nem uma expressão de medo. Para alguém que estava sequestrado, diria até que seu estado é excelente.
Tentei usar meu treinamento de guerra para analisar se algum dos dois tinha ferimentos graves. Como médico do exército, era minha competência fazer este tipo de avaliação à distância. No entanto, todos se locomoviam sem muita dificuldade. A arma disparou para cima furando o teto. Mycroft aproveitou a oportunidade e usou do impacto da pistola para aplicar uma coronhada na cabeça do seu sequestrador. Walter caiu no chão, ainda consciente e se rendeu, com as mãos para cima.

* * *

‒ Agradeço, meu irmão, pelo socorro nada imediato. ‒ Resmungou Mycroft Holmes, como de costume.
‒ Teria demorado menos, se tivesse deixado um rastro maior para prosseguirmos, meu caro. Por mais que muitos acreditem, eu não possuo poderes telepatas. ‒ Retrucou Sherlock.
‒ Às vezes me esqueço que meu irmãozinho é limitado e não consegue seguir o rastro que meu armário desarrumado deixou.
‒ O que importa é que você foi salvo, não Mycroft? E graças ao trabalho do seu irmão. ‒ Falei, numa tentativa idiota de defender meu amigo.
Lestrade tentava conversar com Walter Olsen, o rapaz algemado a uma cadeira. O garoto chorava muito e chegava até a bater dentes de tanto nervosismo. Fomos até ele e sem titubear, foi nos revelada a posição da caixa. O garoto só queria reaver os restos do seu pai que nunca haviam ser enterrados. Segundo Mycroft, o que denunciava o furto na foto de Allan Jones era o anel que tinha pertencido ao General Alastor Olsen, que o garoto usava no fundo da imagem. Fiquei assustado com a resposta para esta pergunta, mas logo Sherlock revelou o óbvio. Ele não seria idiota o suficiente para circular com a caixa de madeira pela rua. Um artefato como aquele seria muito mais facilmente detectado pela polícia.

* * *

Com mais um caso solucionado, Sherlock e eu retornamos a Rua Baker para tomarmos o habitual chá das cinco. Sra. Hudson tinha preparado com muito carinho, mas nunca se sentava conosco. Ela preferia deliciar-se defronte a imagem do seu falecido marido. Enquanto eu escrevia as memórias de mais um caso solucionado ao lado de meu amigo Sherlock Holmes, uma pergunta me passou pela cabeça: “Se Sherlock não tivesse pensado em despistar a guarda na casa da Sra. Edengard, teríamos descoberto o paradeiro de Mycroft?” Depois de anos de convivência ao lado do maior detetive particular do mundo, eu não duvidaria se ele me dissesse que já suspeitava quando fez aquelas perguntas àquela senhora.

‒ Sabe, meu bom amigo John Watson. Vou lhe dizer um segredo que me ajudou a tornar-me o detetive que sou hoje. Claro que precisa de muita lógica e de um intelecto superiormente desenvolvido que nos leva a conclusões muito a frente do raciocínio dos seres humanos reles e limitados como você, mas às vezes, só algumas vezes, nós precisamos de um pouquinho de sorte. Um breve momento de sorte, capaz de mudar tudo.

FIM


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