Um socorro nada imediato
A
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lastor Olsen. ‒ Falou
Sherlock enquanto deixávamos o Palácio do Parlamento. ‒ Watson, procuramos por
um rapaz, provavelmente jovem, com o nome Olsen. Tem alguma ideia que possa nos
ajudar?
Eu não tinha nenhuma.
Fiquei quieto e tentei pensar por mais alguns minutos.
‒ Watson! Por favor. A
senhora que conhecemos mais cedo. Sra. Edengard.
‒ Achei que
procurávamos por um Olsen. ‒ Conclui.
‒ E qual era mesmo o
nome do inquilino da casa dela?
‒ Walter... Olsen! Mas
como ter certeza de que este é o garoto?
‒ Ponha seu cérebro
lento para funcionar, meu amigo. Allan Winston Jones foi fotografado e no,
fundo da foto, um Olsen aparecia. Sabemos que Walter mora na casa ao lado da de
Allan. Faz todo o sentido que o serviço de segurança tenha tentado tirar uma
foto de Allan saindo de sua casa e ao fundo, seu vizinho apareceria passando
pela rua e carregando alguma coisa que o delatou como o ladrão dos restos
mortais de Alastor Olsen!
Corremos de volta para
a rua de Allan e Walter. Lestrade fez questão de nos acompanhar e nenhum dos
dois recusou a ajuda do policial. Se a situação fugisse de controle, seria
interessante ter alguém com permissão para atirar e salvar nossas vidas. Não
que eu imaginasse que Sherlock não seria capaz disso, mas eu tinha certeza de
que, se Lestrade puxasse o gatilho, o risco seria muito menor.
Sra. Edengard gemeu
quando nos reconheceu, mas prometemos a ela que nada de errado aconteceria com
ela. Perguntamos se Walter Olsen estava em casa e ela disse que ele tinha saído
mais cedo para trabalhar no jornal. Avançamos com muita velocidade em direção
ao novo endereço e, quando chegamos por lá, uma grande movimentação na porta de
saída. Nenhum ferido e nenhum sinal de fogo, mas muitas pessoas assustadas com
alguma coisa. Mulheres e homens de todas as idades gritavam e de longe pude
ouvir uma senhora gritando: “Um barulho de tiro. Eu ouvi sim. Vinha do jornal.”
Troquei um olhar com
Sherlock e corremos para dentro do prédio. Lestrade correu atrás de nós. Não
seria difícil identificar a posição do atirador. Provavelmente viria de onde
todas as pessoas corriam. Fomos seguindo o fluxo inverso até encontrarmos
Mycroft brigando corpo a corpo com um rapaz de menos idade, supus que fosse
Walter Olsen. Era a primeira vez que eu via Mycroft Holmes em um embate físico.
‒ Walter Olsen, coloque
a arma no chão e levante os braços já!‒ Gritou Lestrade com a arma em punho.
Sherlock continuava
parado observando a paisagem. Tentei imaginar alguma coisa para poder ajudar
Mycroft, mas não conseguia pensar em nada. Notei que o olhar de Walter não era
o de um criminoso, mas o de uma pessoa muito assustado. Na certa, nunca deve
ter pensado no que suas ações o levariam a fazer. Mycroft, por outro lado,
ostentava a mesma expressão inabalável e rígida. Nem um sorriso. Nem uma
expressão de medo. Para alguém que estava sequestrado, diria até que seu estado
é excelente.
Tentei usar meu
treinamento de guerra para analisar se algum dos dois tinha ferimentos graves. Como
médico do exército, era minha competência fazer este tipo de avaliação à
distância. No entanto, todos se locomoviam sem muita dificuldade. A arma
disparou para cima furando o teto. Mycroft aproveitou a oportunidade e usou do
impacto da pistola para aplicar uma coronhada na cabeça do seu sequestrador.
Walter caiu no chão, ainda consciente e se rendeu, com as mãos para cima.
*
* *
‒ Agradeço, meu irmão,
pelo socorro nada imediato. ‒ Resmungou Mycroft Holmes, como de costume.
‒ Teria demorado menos,
se tivesse deixado um rastro maior para prosseguirmos, meu caro. Por mais que
muitos acreditem, eu não possuo poderes telepatas. ‒ Retrucou Sherlock.
‒ Às vezes me esqueço
que meu irmãozinho é limitado e não consegue seguir o rastro que meu armário
desarrumado deixou.
‒ O que importa é que
você foi salvo, não Mycroft? E graças ao trabalho do seu irmão. ‒ Falei, numa
tentativa idiota de defender meu amigo.
Lestrade tentava
conversar com Walter Olsen, o rapaz algemado a uma cadeira. O garoto chorava
muito e chegava até a bater dentes de tanto nervosismo. Fomos até ele e sem
titubear, foi nos revelada a posição da caixa. O garoto só queria reaver os
restos do seu pai que nunca haviam ser enterrados. Segundo Mycroft, o que
denunciava o furto na foto de Allan Jones era o anel que tinha pertencido ao
General Alastor Olsen, que o garoto usava no fundo da imagem. Fiquei assustado
com a resposta para esta pergunta, mas logo Sherlock revelou o óbvio. Ele não
seria idiota o suficiente para circular com a caixa de madeira pela rua. Um
artefato como aquele seria muito mais facilmente detectado pela polícia.
*
* *
Com mais um caso
solucionado, Sherlock e eu retornamos a Rua Baker para tomarmos o habitual chá
das cinco. Sra. Hudson tinha preparado com muito carinho, mas nunca se sentava
conosco. Ela preferia deliciar-se defronte a imagem do seu falecido marido.
Enquanto eu escrevia as memórias de mais um caso solucionado ao lado de meu
amigo Sherlock Holmes, uma pergunta me passou pela cabeça: “Se Sherlock não
tivesse pensado em despistar a guarda na casa da Sra. Edengard, teríamos
descoberto o paradeiro de Mycroft?” Depois de anos de convivência ao lado do
maior detetive particular do mundo, eu não duvidaria se ele me dissesse que já
suspeitava quando fez aquelas perguntas àquela senhora.
‒ Sabe, meu bom amigo
John Watson. Vou lhe dizer um segredo que me ajudou a tornar-me o detetive que
sou hoje. Claro que precisa de muita lógica e de um intelecto superiormente
desenvolvido que nos leva a conclusões muito a frente do raciocínio dos seres humanos
reles e limitados como você, mas às vezes, só algumas vezes, nós precisamos de
um pouquinho de sorte. Um breve momento de sorte, capaz de mudar tudo.
FIM
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