sábado, 22 de agosto de 2015

Holmes: Capítulo 3


Os restos de um homem morto

F
inalmente de volta a Rua Baker, Sherlock perambulava de um lado para o outro incansavelmente. Tentei reunir os fatos na minha cabeça. (1) Mycroft Holmes tinha desaparecido após dar pela falta de uma foto dos seus registros. (2) A foto continha a imagem de Allan Winston Jones, mas também de alguma outra pessoa que tinha despertado a curiosidade de Mycroft. Talvez a pessoa que aparecesse ao fundo tivesse roubado a foto e depois sequestrado o irmão do meu amigo. Esta pessoa precisaria estar fazendo algo que dissesse respeito a Mycroft.
‒ Sherlock, eu estava pensando... O que será que fazia o homem que aparecia ao fundo da foto do Sr. Jones? Algo chamou a atenção de Mycroft o suficiente para ele ir atrás desta pessoa. ‒ Falei, orgulhoso de minhas reflexões.
‒ Elementar, meu caro Watson. Meu irmão não se locomoveria se, ao fundo, um homem assaltasse uma senhora. Ou se ele aparecesse com uma arma em punho. Existem duas situações que poderiam despertar a curiosidade de Mycroft. Consegue pensar em alguma delas? ‒ Parei para pensar por alguns instantes. Nada surgiu na minha cabeça. Neguei. ‒ Bem, se fosse algum homem procurado por infligir alguma lei internacional ou que colocasse em risco a segurança da Inglaterra, com certeza isso instigaria meu irmão, não acha? Também, se ele desfilasse com algum artefato real que fora roubado, isso seria algo que deixaria Mycroft um tanto perturbado. Agora diga, Doutor Watson, o que há de errado com as minhas teorias?
Outra vez, pensei e não cheguei a nenhuma conclusão. É extremamente difícil corrigir um homem que pensa coisas que a maioria das pessoas sequer desconfia.
‒ Ora vamos, Watson! Mycroft. Quando foi a última vez em que você viu meu irmão partir para trabalho de campo?‒
‒ Acho que nunca o vi.
‒ Exato. Então por que o medroso do meu irmão partiria atrás de um criminoso internacional? Lembremos que ele partiu sozinho.
Mais uma vez, Sherlock estava coberto de razão.

* * *

Lestrade chegou pouco depois. Eu tinha ficado com a incumbência de ler nos jornais se algum artefato importante havia desaparecido. Apesar do meu empenho, eu duvidava que fosse encontrar. Não é o tipo de coisa que se anuncia assim tão facilmente. Assim que o inspetor chegou na Rua Baker, Sherlock parou de falar com a caveira que guardava sobre a lareira e sentou-se na sua habitual poltrona estofada.
‒ Meu bom e velho inspetor Lestrade, por acaso eu e meu fiel companheiro Watson precisamos de uma informação sigilosa que eu acho que você deve ter. Quer fingir fazer algum bem a Mycroft Holmes? Então me diga se houve algum artefato real desaparecido ou roubado nos últimos dias. ‒ Disse Sherlock com o sarcasmo de sempre.
‒ Também estou honrado por trabalharmos juntos, detetive. Até onde eu sei, fomos informados do sumiço de um baú de madeira que guardava os restos mortais do general de guerra Britânica morto pelos Alemães na Segunda guerra. Depois de muito tempo, conseguimos recuperar alguns de seus pertences e algumas partes do seu cadáver. O resto foi perdido, mas o que foi encontrado estava guardado no Parlamento. ‒ Informou-nos Lestrade com algum nojo em seu tom de voz.
Então devia ser isso. O rapaz que aparecia na foto devia estar carregando o baú perdido. Mycroft deveria tê-lo visto na foto e resolveu ir atrás do garoto para recuperar os restos do general e devolvê-los ao Parlamento. Sherlock parecia ter chegado a uma conclusão em sua mente também. Esperei que fosse a mesma que a minha. Lestrade afirmou que não sabia o nome do General então decidimos procurar pela informação no Parlamento.
O olhar sempre atento de Lestrade era mais incômodo do que a presença da guarda real, no entanto, a vantagem era que o inspetor ao menos era só uma pessoa. Sherlock, Lestrade e eu seguimos em direção ao Parlamento. Não tivemos muita dificuldade para adentrar o palácio e logo começamos a procurar por alguém de importância.
Nenhum dos homens que por ali vagavam notava a minha presença. Todos passavam direto, apesar de eu ter quase certeza de que, na maioria das vezes, eu estava gritando para que me ouvissem. Lestrade também não tinha muita sorte. Ali dentro, ninguém parecia ligar para seu distintivo da Scotland Yard. Já Sherlock parecia nem ao menos se importar. Encostou-se junto a uma parede e ficou parado por um longo tempo. Assim que passou um senhor junto a ele, o detetive o deteve se agarrando ao seu braço direito.
‒ O senhor faça o favor de me soltar imediatamente, se não quiser ser condenado a morte.‒ Falou o homem tentando não fazer muito escândalo.
‒ Sim, senhor, eu irei soltá-lo para que possa retornar para o seu encontro pouco formal com a moça que o aguarda. Madame Blanche? Um perfume pouco utilizado por mulheres da sua idade, receio. Não é este o que as meninas estão usando hoje em dia? Ah, sim, imagino que seja. Sua filha usa, não mesmo? Não acredito que sua mulher também use. Até porque, sejamos bem sinceros um com o outro: sua roupa está amassada e a calça aberta.‒ Falou Sherlock no pé do seu ouvido. O homem gelou. Meu amigo largou o seu braço e ele continuou sem se mover. Ao invés disso, apenas disse educadamente:
‒ Em que posso ajudá-lo senhor?
‒ Procuro pelos dados da segunda guerra. Mais especificamente pelo nome do General cujos restos foram recentemente recuperados.
Chegamos até a sala que o homem nos apontou. Estava vazia. Vários arquivos com todos os dados da participação da Inglaterra na Segunda Guerra Mundial. Tudo em arquivos individualizados. Demorou cerca de quinze minutos para que Sherlock encontrasse o que procurávamos: baixas da guerra. Procuramos entre os nomes perdidos o dos generais. Lestrade encontrou primeiro:
OLSEN, ALASTOR. Situação: Morto em combate. Recuperação de restos mortais: Não efetuada.

Os registros ainda não haviam sido corrigidos, mas não havia dúvidas de que Alastor Olsen era o homem que procurávamos.


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