Os restos de um homem morto
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inalmente de volta a
Rua Baker, Sherlock perambulava de um lado para o outro incansavelmente. Tentei
reunir os fatos na minha cabeça. (1) Mycroft Holmes tinha desaparecido após dar
pela falta de uma foto dos seus registros. (2) A foto continha a imagem de
Allan Winston Jones, mas também de alguma outra pessoa que tinha despertado a
curiosidade de Mycroft. Talvez a pessoa que aparecesse ao fundo tivesse roubado
a foto e depois sequestrado o irmão do meu amigo. Esta pessoa precisaria estar
fazendo algo que dissesse respeito a Mycroft.
‒ Sherlock, eu estava
pensando... O que será que fazia o homem que aparecia ao fundo da foto do Sr.
Jones? Algo chamou a atenção de Mycroft o suficiente para ele ir atrás desta
pessoa. ‒ Falei, orgulhoso de minhas reflexões.
‒ Elementar, meu caro
Watson. Meu irmão não se locomoveria se, ao fundo, um homem assaltasse uma
senhora. Ou se ele aparecesse com uma arma em punho. Existem duas situações que
poderiam despertar a curiosidade de Mycroft. Consegue pensar em alguma delas? ‒
Parei para pensar por alguns instantes. Nada surgiu na minha cabeça. Neguei. ‒
Bem, se fosse algum homem procurado por infligir alguma lei internacional ou
que colocasse em risco a segurança da Inglaterra, com certeza isso instigaria
meu irmão, não acha? Também, se ele desfilasse com algum artefato real que fora
roubado, isso seria algo que deixaria Mycroft um tanto perturbado. Agora diga,
Doutor Watson, o que há de errado com as minhas teorias?
Outra vez, pensei e não
cheguei a nenhuma conclusão. É extremamente difícil corrigir um homem que pensa
coisas que a maioria das pessoas sequer desconfia.
‒ Ora vamos, Watson!
Mycroft. Quando foi a última vez em que você viu meu irmão partir para trabalho
de campo?‒
‒ Acho que nunca o vi.
‒ Exato. Então por que
o medroso do meu irmão partiria atrás de um criminoso internacional? Lembremos
que ele partiu sozinho.
Mais uma vez, Sherlock
estava coberto de razão.
*
* *
Lestrade chegou pouco
depois. Eu tinha ficado com a incumbência de ler nos jornais se algum artefato
importante havia desaparecido. Apesar do meu empenho, eu duvidava que fosse
encontrar. Não é o tipo de coisa que se anuncia assim tão facilmente. Assim que
o inspetor chegou na Rua Baker, Sherlock parou de falar com a caveira que
guardava sobre a lareira e sentou-se na sua habitual poltrona estofada.
‒ Meu bom e velho
inspetor Lestrade, por acaso eu e meu fiel companheiro Watson precisamos de uma
informação sigilosa que eu acho que você deve ter. Quer fingir fazer algum bem
a Mycroft Holmes? Então me diga se houve algum artefato real desaparecido ou
roubado nos últimos dias. ‒ Disse Sherlock com o sarcasmo de sempre.
‒ Também estou honrado
por trabalharmos juntos, detetive. Até onde eu sei, fomos informados do sumiço
de um baú de madeira que guardava os restos mortais do general de guerra
Britânica morto pelos Alemães na Segunda guerra. Depois de muito tempo,
conseguimos recuperar alguns de seus pertences e algumas partes do seu cadáver.
O resto foi perdido, mas o que foi encontrado estava guardado no Parlamento. ‒
Informou-nos Lestrade com algum nojo em seu tom de voz.
Então devia ser isso. O
rapaz que aparecia na foto devia estar carregando o baú perdido. Mycroft
deveria tê-lo visto na foto e resolveu ir atrás do garoto para recuperar os
restos do general e devolvê-los ao Parlamento. Sherlock parecia ter chegado a
uma conclusão em sua mente também. Esperei que fosse a mesma que a minha.
Lestrade afirmou que não sabia o nome do General então decidimos procurar pela
informação no Parlamento.
O olhar sempre atento
de Lestrade era mais incômodo do que a presença da guarda real, no entanto, a
vantagem era que o inspetor ao menos era só uma pessoa. Sherlock, Lestrade e eu
seguimos em direção ao Parlamento. Não tivemos muita dificuldade para adentrar
o palácio e logo começamos a procurar por alguém de importância.
Nenhum dos homens que
por ali vagavam notava a minha presença. Todos passavam direto, apesar de eu
ter quase certeza de que, na maioria das vezes, eu estava gritando para que me
ouvissem. Lestrade também não tinha muita sorte. Ali dentro, ninguém parecia
ligar para seu distintivo da Scotland Yard. Já Sherlock parecia nem ao menos se
importar. Encostou-se junto a uma parede e ficou parado por um longo tempo.
Assim que passou um senhor junto a ele, o detetive o deteve se agarrando ao seu
braço direito.
‒ O senhor faça o favor
de me soltar imediatamente, se não quiser ser condenado a morte.‒ Falou o homem
tentando não fazer muito escândalo.
‒ Sim, senhor, eu irei
soltá-lo para que possa retornar para o seu encontro pouco formal com a moça
que o aguarda. Madame Blanche? Um
perfume pouco utilizado por mulheres da sua idade, receio. Não é este o que as
meninas estão usando hoje em dia? Ah, sim, imagino que seja. Sua filha usa, não
mesmo? Não acredito que sua mulher também use. Até porque, sejamos bem sinceros
um com o outro: sua roupa está amassada e a calça aberta.‒ Falou Sherlock no pé
do seu ouvido. O homem gelou. Meu amigo largou o seu braço e ele continuou sem
se mover. Ao invés disso, apenas disse educadamente:
‒ Em que posso ajudá-lo
senhor?
‒ Procuro pelos dados
da segunda guerra. Mais especificamente pelo nome do General cujos restos foram
recentemente recuperados.
Chegamos até a sala que
o homem nos apontou. Estava vazia. Vários arquivos com todos os dados da
participação da Inglaterra na Segunda Guerra Mundial. Tudo em arquivos
individualizados. Demorou cerca de quinze minutos para que Sherlock encontrasse
o que procurávamos: baixas da guerra. Procuramos entre os nomes perdidos o dos
generais. Lestrade encontrou primeiro:
OLSEN, ALASTOR.
Situação: Morto em combate. Recuperação de restos mortais: Não efetuada.
Os registros ainda não
haviam sido corrigidos, mas não havia dúvidas de que Alastor Olsen era o homem
que procurávamos.
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