segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Aquela palavra com A

Uma vez eu amei. Dessa eu tenho certeza. O nome dela, não preciso anunciar. Ela já está no passado, enterrada debaixo de muitas falsas paixões. Esquecida. Perdida. Apagada. O que lembro de quando eu a amava é o que me dá certeza do meu ex-amor. Quando eu a encontrava, o mundo virava do avesso. Quando seus olhos me encontravam, eu sentia meu corpo mexer de uma forma diferente. O ar parecia mais limpo e não me faltava. Eu sentia segurança para fazer o que viesse a cabeça. Camila era alguém especial. Foi por causa dela que eu soube que eu sabia cantar. Por causa dela que eu soube que eu não sabia dançar. Mas eu tentei. Tentei dançar e cantar.

A gente brigava. E como brigava. E doía. Quando ela dizia que ia embora, doía muito. Mas, apesar de tudo, eu pensava no dia em que não haveria mais Camila na minha vida. Eu conseguia ver de longe essa data. Pensar nisso doía, lógico, mas era reconfortante saber que um dia eu seria capaz de cantar e não-dançar sem ela por perto. Camila me conhecia bem demais. Sabia exatamente quais eram os meus pontos fracos. Ela sabia o que me fazia bem e o que fazia mal. Ela tinha as armas para me deixar bem ou mal. Ela tinha todas as armas. A última vez que eu a vi soa em minha mente como ver um fantasma, uma sombra de algo que não existe mais. Ficaria só a dúvida: é possível amar por uma segunda vez?

E a resposta foi sim. Demorou para chegar, mas veio. Veio nos olhos mais brilhantes que surgiram na minha frente. Veio do sorriso mais vermelho, mais escandaloso e mais abobalhado que sorriu para mim. E foi completamente diferente. Se Camila me dava pulmões extra, agora me falta ar o tempo todo. Se Camila me inspirava confiança, agora tenho medo de me olhar no espelho. Se com Camila eu podia aloprar sobre um palco e rir no fim de tudo, agora eu queria rir fora dos palcos. Acho que eu nunca fiz Camila rir. Não do jeito como agora esta outra ri. O que significa cada riso? O que cada gargalhada diz?

Certo dia, recebi dela um abraço que parecia dizer “não vá embora”. Eu não queria ir. Talvez por isso mesmo eu tenha imaginado que era isso que dizia. Agora, pensando bem, pode dizer tanta coisa. Lembro uma vez de ter dito a Camila sobre o que eu sentia e ela me disse que era difícil acreditar. Será que, outra vez, eu não fiz esta outra acreditar? Pensei que minhas palavras tivessem dito “eu te amo”, pensei que meu olhar tivesse dito “não me deixe”, pensei que meus abraços tivessem dito “fica comigo” e que o meu “tchau” tivesse dito “até logo”.

Há gente nesse mundo que vai usar o amor como espada, como uma armadura e irá tentar fazer crer em coisas ruins. O que aprendi com Camila, sua última lição, foi que até o amor pode um dia parar e que depois dele, outros poderão vir. A única questão é que a última vez que vi Camila faz muito tempo. Ela já não está mais aqui. Não haveria espaço na minha vida para ela, não um espaço diferente do que ela ocupava. Sim, eu disse adeus. Não me arrependo. Talvez Camila seja hoje uma das poucas pessoas do meu passado para quem eu posso olhar e cumprimentar no meio da rua. Mas quanto a esta garota que ri, não quero cumprimenta-la atravessando a 28 de Setembro. Quero encontra-la muitas vezes e ouvir seu riso estranho. Quero ver seu rosto rubro e ouvir meu coração palpitar e minha respiração falhar. Quero cantar e dançar. Quero dizer que a amo todos os dias.


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