Não sei mais como me
sinto. Seu olhar me reconforta e me engana. Tudo se misturou completamente em
um caldeirão de imaginários. Juro que tentei ao máximo.
Minha pequenina, teria
sido bem melhor se você tivesse me contado tudo.
Quero começar pelo começo
mas não sei onde ele fica. Talvez em um ônibus esmeralda a caminho de uma
pizzaria qualquer, acompanhado de um maestro, que eu pensava fortemente ser seu
amor, uma aprendiz que sibilava desde aquele tempo longínquo e um astro genial
que insistia em me imitar. Você me olhou sorrindo e depois disse algo que não
absorvi pois estava encantado com seu olhar, o primeiro dos transes.
Pensava em como um ser
superior criara tal cor: Bronze, mel, cobre, caramelo, amêndoa, ouro, pinho,
carvalho, orvalho. Misto sublime, moeda viradoura, relógio diário, tique taque,
hipnotizado.
Um marco grande, pelo
menos penso eu, fui a honra de lhe oferecer uma nomenclatura, alcunha carregada
a todo momento. Morro de vergonha e saudade desse dia, eu parei na primeira
loja e fiquei horas olhando uma parede até decidir o que fazer. Depois, bem
depois, sentei em minha cama, abracei meus joelhos, comecei a sonhar com você e
uma lágrima escorreu. Rapidamente a sequei e neguei que isso tinha acontecido,
não era pra ter acontecido, eu percebia que estava preso, havia caído na
armadilha mais sórdida do destino.
Lembro daquela seção onde
você chorou de emoção, e mesmo estando ao meu lado, negava com todas as forças,
você estava tão linda.
O bosque foi memorável,
felicidade estupenda ao te ver rindo a todo momento, coisa que de uns tempos
pra cá tem se tornado rara, pro meu desespero. Você subia pela floresta,
conversava alegremente. Suas feições majestosas. Acho que foi nesse dia que eu
finalmente notei que não havia mais volta, que você já era mais importante que
todos, que não poderia mais ignorar isso sem temer a solidão eterna. Minha
mente estava girando.
O primeiro impacto de
real sofrimento se deu naquela fatídica noite. Ele precisava de mim. Eu queria
tanto que ele precisasse. Mas meias verdades foram ditas, e quando finalmente
descobri tudo já era tarde de mais, o estrago já estava feito.
Entenda que eu não te
culpo, nem a ele, por não terem falado nada, por terem escondido o que eu não
queria ver. Vocês não tinham esse dever. A culpa é minha e só minha. Eu que não
agi como deveria. Não fui certo em minhas escolhas. Não joguei direito. Pra que
serve um amigo se ele não concilia situações perfeitamente. Pra que eu sirvo.
Não sei.
Parei de girar e agora me
vem a tontura. Eu não sei mais o que quero exatamente, só sei que você se faz
prioridade em todo lugar.
Resumo da ópera? Eu sou
um bobo que não percebe nada, ingênuo de mais. Chegaste como uma cobra,
rastejando pelos cantos. Malevolente. Cheia de má vontade. Me picou enquanto
dormia. O veneno fraco e lento agiu aos poucos. Se espalhou por todo o sistema
nervoso me impossibilitando de percebê-lo. Me dei conta da minha situação
quando meus membros já não funcionavam corretamente, quando as alucinações
infestaram a minha mente, poder subconsciente. Sua força já era incomparável,
meu ser não tinha mais nenhuma defesa. Ele não tem mais sanidade. Ele não tem
mais vida. Ele não tem você.
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