segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Opostos não complementares

Seis meses depois que terminamos ela conheceu aquele cara. É, o cara com quem ela se casou dois meses depois de conhecer. O cara com quem ela dançou bem na minha frente, no casamento que eu, não sei porquê, decidi comparecer. Eu só disse sim. Não para que ela fosse minha esposa, quem dera; apenas disse que sim, iria ao casamento dela.

Com um cara. O casamento dela com um cara.

Credo! Tinha que ser um cara? E dois meses depois de conhecer! Ela sempre disse que eu precisava viver mais o momento, sabe. Fazer umas loucuras. Ficar com raiva. "Discutir direito" quando começávamos a brigar. Nunca fui de perder a linha. Apenas me acalmava e tentava ponderar sobre quem estava errada. Ela não. Ela fazia um escândalo – "vivia o momento. Era eu quem mantinha os pés no chão e as contas em dia. Eu era a racional. Mas tentava agrada-la, de verdade. Não gostava de saber que, de alguma forma, estava sendo injusta. No entanto, às vezes isso era o que mais a irritava, a forma como eu colocava tudo à frente do que eu desejava. As contas. A felicidade dela.

Entretanto, naquele dia, essa característica estava sendo bem conveniente para ela. Fingir que estava tudo bem entre a gente porque eu disse que iria sim ao casamento dela. Enquanto eu fingia que sorria para a senhora sentada ao meu lado, comentando sobre a valsa dos noivos.

Enquanto ela dançava, não podia nem imaginar que era eu quem dançava com ela – e tudo porque ela havia casada com um cara. Não podia nem reclamar com a senhora ao lado. Até porque, era injusto jogar todo o meu ciúme para cima da pobre coitada. Deus, como eu queria pular em cima deles dois e levar ela de volta pra casa comigo.

Sentia tanta falta dela. Desde o dia em que deixou uma carta de despedida, bem dramática, bem do jeito que ela era. Ela dizia que queria aventuras que eu não podia lhe proporcionar. Eu queria uma segurança que ela não podia me passar.

Mas apegada demais as coisas, como sempre sou, não conseguia largar dela. E ela sempre dizia que eu era ciumenta... Essa possessividade à matava, confessou. Mesmo naquele momento, sabendo que não era mais minha – que nunca foi, na verdade – ainda sentia que uma parte minha estava costurada à ela. Queria tirá-la de perto dele... Mas apenas continuava sorrindo para a senhora da cadeira ao lado.

Apenas continuava sentada, quieta, sabendo que não éramos para ser; querendo ela de volta, querendo mais ninguém, mas ela. Querendo fazer o escândalo que ela sempre quis que eu fizesse, sabendo que nunca seria capaz daquilo. 

 

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