domingo, 21 de fevereiro de 2016

A arte de ser babaca

Muitos tentam, poucos conseguem. Ser um babaca é mais difícil do que parece. A babaquice não é uma meta a ser conquistada, é um estado de natureza prévio e nato. Tantas palavras bonitas para expressar que um babaca é um babaca porque nasceu babaca. Típico. Ao contrário da maioria, o babaca já nasce rindo. E quando o médico tenta cortar o cordão umbilical, ele chora, mesmo sem sentir dor nenhuma. O propósito é um só: ser babaca.

Na infância, o babaca é com certeza popular. Dono de todas as piadinhas de "pavê e pacumê", ele logo desperta o cunho sexual das suas sacadas e toca o terror no maternal. As tias desesperadas não sabem como dizer para ele que "caralho" é um palavrão e que não pode ser dito na sala de aula, mas o babaca continua constrangendo a tudo e a todos. Como um bom palhaço, a patota dá risadas e aplaude suas babaquices infindáveis e ele rege o circo em piruetas de constrangimento e idiotice.

 A puberdade do babaca é sofrida. Ele geralmente é o último a ganhar pentelhos e o primeiro a afinar a voz. E enquanto todos os amiguinhos estão com sovacos cabeludos e meninas nos seus braços, o babaca, contente, berra com sua vozinha desajustada e faz as mesmas piadas de mau gosto que sempre foram o forte da sua babaquice. Ele ataca as mulheres com sua cara cheia de acnes, mas elas fogem porque ele é só um babaquinha.

Quando adolescente, o babaca começa a se achar superior. Ele faz piadas com negros, gays, nordestinos e portugueses. Não percebe que ninguém acha graça no seu preconceito e, para afirmar a sua babaquice, ele fecha o show com seu arsenal de piadas machistas. Depois de se provar um babaca por completo, ele sai com a trupe para shoppings e recantos para aterrorizar qualquer "Zé" que passe com uma expressão de "certinho". Suas piadas, pouco variáveis, vão de "quer chupar o pau do meu colega?" até "tu é viadão?". O resultado da sua abordagem é, geralmente, o mesmo. Uma saraivada de olhos revirados e um silêncio constrangedor. Mas para o babaca, o silêncio é a vitória. Afinal, quem cala consente, não é mesmo?

O babaca se acha o máximo porque está sempre sorrindo. Na maior parte, está escondendo a sua verdadeira expressão que diz, ferozmente, que o mundo é um lugar chato e mais parece uma novela do Manoel Carlos, cheio de problemas familiares e zero de envolvimento. Em suma, "muito drama e pouca cama", como diria em mais uma piada sexista sobre as mulheres. O babaca, na verdade, é um covarde que gostaria de ter a coragem das minorias, mas, em falta de coragem, zomba de tudo e de todos.

Apesar das inúmeras recomendações para se manter longe de babacas, há quem arrisque um envolvimento emocional com este tipo. O resultado geralmente é catastrófico, variando entre casos de violência doméstica e exposição de vídeos sexuais na internet. Para o babaca, a piada nunca é o fim, é apenas um breve intervalo para um novo começo. O babaca vai sempre querer estragar a sua felicidade, pois é a única maneira dele afirmar a sua felicidade.

Se você vir um babaca, feche os olhos e não tenha piedade em mandá-lo "tomar no cuzinho roxo dele". Fará bem para a sua autoestima e irá irritá-lo profundamente.

Dedicado a todos os babacas.
 

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