quinta-feira, 24 de setembro de 2015

O homem que fazia sonhar

Eu era apenas o homem dos seus sonhos. Digo isso sem nenhuma pretensão maligna ou pervertida. Eu sou o homem dos sonhos de todas as pessoas. Na sua realidade, eu não existo. Eu habito o imaginário comum, um lugar onde todos vão quando sonham e lá, me encontram. Por lá, já conheci todo o tipo de pessoas. Aquelas que me pediam conselhos de onde ir, as que perguntavam que dia era hoje, as que perguntavam quem eu era. No entanto, eu era um comunicador comum. Eu tinha que dizer a todas o que me falavam que eu deveria dizer. Eu tinha que cuidar para que nenhuma delas despertasse de um sonho.

Bem, digamos que eu sou aquele que toma conta de todos enquanto dormem. Eu vigio cada um de vós e, por vezes, entro nos seus sonhos. Eu entro quando meus superiores pedem para entrar. Entro quando dizem que existe alguém querendo acordar. Então eu participo do sonho. Entro neste entorpecer que vocês vivem e respondo perguntas para hipnotizar cada um de vocês. Eu só tenho que fazer com que fiquem mais alguns instantes. Preciso ludibriar a mente de cada um com respostas infames que vão te aprisionar em seus sonhos por mais algum tempo.

Foi então que eu conheci um garoto diferente de todos os outros que passavam por ali. Ele me olhou nos olhos sem pedir que eu entrasse no seu sonho e perguntou: “Estou procurando por uma garota. Você pode me ajudar a encontrá-la?” Tentei lhe despistar com uma resposta padrão, o tipo de resposta que faz as pessoas retornarem para seus sonhos profundos, mas ele não voltou. Ele insistiu que eu lhe dissesse onde estava aquela menina.

“Ela é a garota mais linda que já sonhou. O sorriso dela é estrondoso, seu rosto fica todo vermelho e há um barulho agudo e alto por trás de cada gargalhada. Não creio que ela esteja rindo, não deve ser fácil encontrá-la. Eu mesmo demorei muito tempo.” Disse o garoto para mim.

Resolvi procurar junto à ele. Sua preocupação era tão verdadeira que me comovia. Procuramos juntos. Nunca havia reparado quantas pessoas havia sonhando. Eram sempre muitas. Sempre várias. Minha visão já não dava mais conta de tantas pessoas. Eis que então ele a encontra e corre até ela. Ela está sentada e ri como uma boba. Ele não consegue ser visto por ela. Enquanto a garota sonha, o rapaz só a observava.


Eu disse a ele que ele precisava sonhar para continuar ali. Ele me disse com um sorriso no rosto: “estar ao lado dela já é um sonho”. Não tive coragem de ludibriar aquela mente. Já estava completamente entorpecida com aquele sentimento. O garoto já tinha se tornado um bobo e continuaria imerso em sua bobeira até aquele amor se esgotar. Foi bom ter companhia por um dia. Por um breve momento, eu desejei que em algum canto alguém estivesse esperando por mim. Alguém que abriria mão de sonhar para estar ao meu lado, para me ver sorrir.


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