quarta-feira, 18 de novembro de 2015

O desjeitoso Plágio

Caro leitor, o que mostrarei para você agora não é nada mais nada menos que minha...
- Ih! Lá vai ele tentando imitar Machado. És um medíocre!
Fulano, eu pensei ter deixado bem claro que não queria você aparecendo por aqui... Sua aparição é bem mais pra trás, lembra? Pode ser assim? Por favor?
- Ah! Mas não queres ser o novo rei da metanarrativa? Tu tens que copiar a quebra da linearidade, ora pois.
Fulano, eu sei que você está estressado. Ainda não lhe dei nome, não consertei seu sotaque e também não troquei essa maldita segunda pessoa do singular. Mas tente entender o meu lado, não possuo tempo suficiente. Tenha um pouquinho mais de empatia.
- Alguém ai falou em empatia?
Poxa vida, Daniel, já não basta o Fulano? Eu preciso começar o texto, deem-me licença. Para que diabos fui eu tentar montar um antissocial?
- É... Desculpa incomodar, mas o correto seria "puxa vida"...
Que ótimo. Meu texto virou festa agora. Não é possível isso! Até você quer me corrigir Martinha?
- Bom, é que pra falar a verdade, eu sempre quis ser escritora (até acho que escreveria esse conto melhor que você). Mas infelizmente, você me botou junto com um português metido e um antissocial depressivo.
Martinha, eu ordeno que deixe de bobagem antes que...
- E outra coisa! Quase ia me esquecendo do mais importante. Não quero mais ser sua. Quero sair pra realidade, lançar meu livro, dar autógrafos, arranjar um namorado... Já imaginou?!
Uhum. Legal, bem legal. E por acaso é possível?! Não, não é! Então agora se me permitem...
- Ei! Calminho ai. Agora é a minha vez! Em primeiro lugar, quero que tire esses meus olhos podres. Não curto muito essa onda de revoltado isolado do mundo. Em segundo lugar, como Marta, não quero mais fazer parte desse conto, e sim brilhar em um romance único e exclusivo para mim. E em terceiro lugar, não crie personagens baseados na sua personalidade. Isso é muito clichê e apenas mostra o quão imaturo e ingênuo você é como escritor. Não sei se você estudou Platão... A arte é mimeses da realidade? Você sabe alguma coisa disso?
Ai, ai... Olhem bem. Eu não irei atender nenhum pedido, entenderam?
- Por quê?
- Por quê?
- Por quê?
Ué, por quê? Porque eu quero me tornar um escritor, ora pois.
- Por que você quer se tornar um escritor?
Não preciso responder vocês...
- Precisa sim. Você teme a resposta presa na sua língua?
Nada disso! Eu só... Eu só... Eu só quero fazer um bem pra sociedade!
- Bem pra sociedade? Que bem você faria? Você acha que as pessoas leriam suas escritas? Você acha que as pessoas irão ler esse conto supérfluo?
Mas... Mas eu...
- Encare a realidade. Você bem sabe que humanos apenas buscam a imortalidade. Você não é diferente. Largue seu lápis. Joga fora sua anotação. Levanta e faça algo... (nós achamos que você já pode parar com o travessão).
Preciso levantar e fazer algo útil. Preciso estudar para tirar boas notas na prova. Preciso decorar a matéria e passar no vestibular. Preciso abster-me de relacionamentos amorosos, pois assim posso perder meu foco. Preciso ater-me à fala dos professores, pois eles são os que mais sabem. Preciso... Preciso... Preciso tecer minha... minha Carta Testamento... Preciso lembrar-me de preencher o tambor...
 

Um comentário:

  1. Quisera eu viver em páginas singelas da literatura de autores assim. Não cogitaria nunca sair à realidade de dias incertos, afeitos à possibilidade de correções da magia de sonhar....

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