domingo, 27 de setembro de 2015

Meu amor D'arc: Chapter four


Une bonne chance

N
o dia seguinte, cheguei em polvoroso para cobrir meu último turno. Hartley disse que Joana tinha dormido a tarde inteira e que achava estranho seus hábitos. “Parece que ela é noturna. Devemos avisar para a igreja que as bruxas dormem de dia?” Eu ri e respondi que eu também dormia de dia e nem por isso eu era bruxo. Como de se esperar, ele deu uma volta na minha resposta e fez parecer que eu pudesse dormir sem ser bruxo.
Ao fim, incentivei que ele fosse contar da grande descoberta científica do ano. Preferia me livrar logo da sua presença e seguir em frente com meu plano de resgate. Logo que estávamos sozinhos, acordei Joana e pedi que se preparasse para fugir. Teríamos que esperar até as sete horas, quando trariam o jantar e poderíamos ir. Se fugíssemos antes, teríamos menos tempo para fuga. O jantar foi servido pontualmente às sete. Esperei que ela comesse um pouco para podermos fugir.
‒ Como pretende sair do país? ‒ Ela perguntou ansiosa.
‒ Estou contando que você seja tão boa com uma espada quanto dizem. Vamos criar uma confusão na ala dos prisioneiros comuns e fugir pelos fundos. A Guarda irá atrás dos prisioneiros e não vai perceber que nós sumimos. Saindo do palácio, vamos roubar uma pequena embarcação comercial. Chegaremos a França e lá eu conto com você para nos guiar.
Entreguei uma espada para ela e seguimos em direção a saída. Misteriosamente, poucos guardas protegiam o corredor. Eu contei apenas dois. Quando iria me virar para dar a informação, Joana já havia passado do corredor, já cortava a garganta do primeiro e investia para perfurar o estômago do segundo. Dois ingleses mortos. Não corri o risco de me penalizar. A guerra deles era outra.
Fugimos com cautela e chegamos a área dos prisioneiros comuns. Mais dois guardas protegiam ladrões e inimigos da Coroa. Desta vez, eu fui na direção de um deles e tentei finalizá-lo de uma vez, antes que começasse a gritar. Sim, eu matei um inglês. Já eram quatro mortos. Uma a uma, as celas foram abertas e os prisioneiros se dispersavam pelo corredor. Cada um envolto em sua fúria, todos no ímpeto da fuga.
Os guardas já se mobilizavam contra os fugitivos. Puxei Joana pelo braço e fugimos pelos fundos, escondidos. Não havia mais nenhum guarda protegendo as saídas. Todos corriam para conter os prisioneiros. Sair do palácio havia sido a tarefa mais fácil do mundo. Espantei-me com a pouca proteção que existia sobre Joana D’arc. Os ingleses tinham tanto medo dela que não consideravam possível que um de nós deixaria ela ir.
‒ Vamos, precisamos chegar ao cargueiro logo, antes que notem a nossa falta.‒ Falei tentando não gritar, mas com ar faltando.
‒ Acha que vamos enfrentar mais algum guarda? ‒ Ela perguntou.
‒ Não. Todos já ficaram para trás. Estamos livres, Joana.
Ela se aproximou e me beijou. Foi muito inesperado. Finalmente eu estava com a mulher mais destemida da França e provavelmente da Europa. Senti sua mão passar pela minha cintura e achei que fosse o beijo mais sincero que ela havia me dado. Ledo engano. Minha espada estava agora nas mãos dela. Eu, completamente desarmado.
‒ O que está fazendo Joana? ‒ Perguntei.
‒ Como você disse, todos os guardas ficaram para trás. Menos um, você.
‒ Mas eu estou do seu lado. Eu te amo, Joana.
‒ Desculpa, querido. Eu tenho que pensar na minha segurança, você é um perigo. Eu gosto de você, mas é que, você sabe... Não dá para se apaixonar em três dias. Como eu disse, eu não sou como as outras mulheres que você conhece. Foi bacana, mas não significou muito. Quer dizer, significou: minha libertação. Merci beaucoup!
Ela me deu uma coronhada e eu desmaiei no chão.
Acordei depois de um longo tempo. Hartley me dizia que eu havia me tornado um herói. Que um insano qualquer havia invadido o castelo e libertado todos os prisioneiros, inclusive Joana. Segundo a história dele, eu batalhei com este homem e ele fugiu, mas eu corri bravamente atrás da bruxa francesa. Não sei de onde surgiu essa história. Na certa um dos criados deve ter inventado. Aceitei essa versão. O resultado era a morte de 12 ingleses da Guarda e mais a morte de todos os prisioneiros que haviam tentado fugir. Somente Joana havia conseguido escapar.

* * *

Depois de um longo tempo na Guarda, eu havia me tornado um exemplo de disciplina. Para todos, a minha disciplina era fruto de um trabalho ferrenho na guerra contra os franceses. Para mim, a verdade era que eu sentia vergonha de ter amado Joana D’arc. Quis ser um bom inglês e aceitei minha função, mas, no meu coração, eu sentia o vazio de saber que ela estava livre por aí. Que poderia se casar e viver a vida que quisesse, longe de mim.
‒ Wilbor, venha comigo! Temos notícias importantes da França! ‒ Gritou Hartley muito animado. Eu não sabia que novidades poderiam ser, mas torcia para que fossem boas notícias de fato.
‒ Meus caros compatriotas, ‒ começou o oficial superior‒ Joana D’arc foi capturada em Ruen na França. O Duque Felipe irá cuidar do julgamento e da execução da bruxa e a Coroa inglesa decidiu enviar alguns de seus melhores homens para auxiliar na proteção da prisioneira. Tenho candidatos?
Percebi vários olhos em cima de mim e pedi a palavra. Avancei até a frente da Guarda e disse:
‒ Aqueles que quiserem me acompanhar, que o façam. Joana D’arc não é uma bruxa. É uma mulher. Ela pode ser o demônio quando bem entender, mas no fundo, ela é tão carne e osso quanto qualquer um de nós. Não há motivo para se apavorar. Quando a carne dela queimar, vocês vão ver que ela será cinzas como qualquer ser humano. Não se deixem enganar. Joana D’arc não é nada de além de uma francesa comum.

E assim, marchei, junto aos meus oficiais, rumo a execução de Joana D’arc. Que o fogo seja a nossa justiça!


THE END




Nenhum comentário:

Postar um comentário