Nesse
canto mal iluminado, frio e silencioso da biblioteca. Cercado de pilhas e
estantes de livros. Com focos de luz em rostos e páginas, vindos das luminárias
em cada mesa, que compensam a escassa iluminação do teto. Ele observa cada uma
das pessoas em volta, concentradas em folhas de papel incrivelmente básicas e
essenciais, cabeças inclinadas e olhos correndo por cada linha. Pensa em como
as coisas acontecem aqui realmente. Esse simples lugar que representa um
conexão. Tão silenciosa, ele pensa, mas tão ativa. Pode quase ver ideias,
conclusões, impressões, raciocínios, o que seja, palavras sendo absorvidas e
sentidas. Vê algo mais se formando em cada um desses pares de olhos. Sente cada
um desses cidadãos do lado de fora observando como ele os observa, neste
momento. Pode ver os arquitetos de mundos, observadores de histórias,
inventores, como ele, caçadores de algo mais, do que acontece, aconteceu ou
aconteceria, fora desse ambiente com leve cheiro de poeira. Tudo a partir de
meras folhas de papel. Por vezes distorce as imagens; hora vê um planeta
inteiro reconstruído, hora um espaço fantasioso, hora uma fileira de mesas de
madeiras com pessoas sentadas em silêncio.
E
todos aqui constroem, criam, arquitetam, aprendem, algo para si próprios: novas
conclusões, novas informações, novas ideias, novas construções, novos
pensamentos que só lhe são sugeridos. Vê algo melhor a partir desses olhos
concentrados nas páginas em preto e branco, algo talvez inexistente, impossível
e tão colorido. Edifícios sólidos e imaginários. Quase pode tocá-los, mas no
final são apenas de papel, com a realidade a se duvidar, de acordo com esses
personagens que ele aqui observa, muitos outros lá fora e até ele mesmo. Mas as
possibilidades são a parte mais excitante, a dúvida. Será possível? Qual a
probabilidade? Você vê o que vejo?
E
esse escritor que observa, se diverte por fazer parte desse mundo, por
construí-lo muitas vezes. Esses prédios e essa vida, agora de papel; com esse
novo céu límpido e tão azul, essas novas construções ilusórias e essa grande
linha do horizonte, impossivelmente, sem limite algum.
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