(Irmã
da Vítima)
Minha irmã e eu sempre
fomos muito amigas. Angelica era a irmã mais velha típica. Do tipo que gosta de
colocar a culpa na gente e eu sempre aceitei levar a culpa. Passamos bons
momentos juntas até ela ir para o Rio de Janeiro. Mamãe e papai gostavam muito
de nos duas [ainda gostam] e tiveram a oportunidade de mandar uma de nós para
estudar no Rio. Claro que tinha que ser ela, era a mais velha, todo mundo
entendeu a escolha. Apesar da distância, ela ainda mandava cartas. Era bom
saber que ela estava bem.
A gente estava um tanto
afastada. Não nos correspondíamos já havia alguns meses, quando eu soube que o
Josis tinha uma chance de vir para o Rio, eu simplesmente adorei. Eu corri
direto para casa e fiz as malas. Ela não devia saber que eu chegaria. Deixei
meu namorado cuidar dos detalhes (onde moraríamos, passagens e tudo mais) eu só
queria saber de encontrar minha irmã e fazer desse encontro memorável. Pedi
para mamãe e papai descobrirem onde ela morava e onde ela trabalhava. A minha
ideia era aparecer de surpresa no apartamento dela. Que irmã não gostaria de uma
visitinha surpresa?
Quando eu cheguei no
Rio de Janeiro, eu não liguei muito para a cidade em si. Eu cheguei focada no
nosso reencontro. A gente já não se via há muitos anos, era praticamente uma
nova pessoa que eu iria conhecer. O lugar onde meu namorado e eu iríamos morar
era uma visão ‒ digamos ‒ exótica para uma garota do campo como eu. Não era
nada como a cidade que eu via na televisão, mas não me incomodou em nada o
lugar. Era apertado, mas a gente iria se virar. Desarrumamos as malas e fomos
dormir.
Assim que eu acordei,
vi meu namorado com uma garrafa de bebida, e falando muitas coisas sem nexo. A
sua língua estava mais embolada do que novelo de lã. Ele perguntou se eu queria
ter um filho com ele: eu ri da cara dele e sai. Eu fui procurar emprego. Passei
por alguns lugares que procuravam por alguém com as minhas habilidades. Não sou
uma garota de muitos estudos, mas eu sempre soube fazer muitas coisas. Por fim,
consegui um emprego em um açougue do bairro. O salário não era nenhuma
maravilha, mas ao menos eu teria minha independência.
No fim do expediente,
eu não voltei para casa, eu fui visitar Angelica. Estava ansiosa para o nosso
reencontro. Assim que eu cheguei, eu a vi chegar em casa. Ela me convidou para
ir a um botequim na rua dela e conversamos por algumas horas. Ela me contou que
estava um pouco infeliz com a sua vida aqui. Disse que a vida que ela encontrou
aqui era muito estressante, que ela não conseguia suportar o caos da cidade
grande. Eu até entendo. Sinais de trânsito, pessoas andando com pressa... Esse
tipo de coisa pode levar a loucura. Ela também reclamou de alguém que a estava
perseguindo. Parece que houve algum desentendimento no trabalho. Não sei. Ela
estava exausta e disse que gostou muito de me ver, pediu para que eu voltasse mais
vezes. E foi assim que nos despedimos. Mal sabia eu, pela última vez.
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