sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Tatiana, 23 anos






(Irmã da Vítima)
Minha irmã e eu sempre fomos muito amigas. Angelica era a irmã mais velha típica. Do tipo que gosta de colocar a culpa na gente e eu sempre aceitei levar a culpa. Passamos bons momentos juntas até ela ir para o Rio de Janeiro. Mamãe e papai gostavam muito de nos duas [ainda gostam] e tiveram a oportunidade de mandar uma de nós para estudar no Rio. Claro que tinha que ser ela, era a mais velha, todo mundo entendeu a escolha. Apesar da distância, ela ainda mandava cartas. Era bom saber que ela estava bem.

A gente estava um tanto afastada. Não nos correspondíamos já havia alguns meses, quando eu soube que o Josis tinha uma chance de vir para o Rio, eu simplesmente adorei. Eu corri direto para casa e fiz as malas. Ela não devia saber que eu chegaria. Deixei meu namorado cuidar dos detalhes (onde moraríamos, passagens e tudo mais) eu só queria saber de encontrar minha irmã e fazer desse encontro memorável. Pedi para mamãe e papai descobrirem onde ela morava e onde ela trabalhava. A minha ideia era aparecer de surpresa no apartamento dela. Que irmã não gostaria de uma visitinha surpresa?

Quando eu cheguei no Rio de Janeiro, eu não liguei muito para a cidade em si. Eu cheguei focada no nosso reencontro. A gente já não se via há muitos anos, era praticamente uma nova pessoa que eu iria conhecer. O lugar onde meu namorado e eu iríamos morar era uma visão ‒ digamos ‒ exótica para uma garota do campo como eu. Não era nada como a cidade que eu via na televisão, mas não me incomodou em nada o lugar. Era apertado, mas a gente iria se virar. Desarrumamos as malas e fomos dormir.

Assim que eu acordei, vi meu namorado com uma garrafa de bebida, e falando muitas coisas sem nexo. A sua língua estava mais embolada do que novelo de lã. Ele perguntou se eu queria ter um filho com ele: eu ri da cara dele e sai. Eu fui procurar emprego. Passei por alguns lugares que procuravam por alguém com as minhas habilidades. Não sou uma garota de muitos estudos, mas eu sempre soube fazer muitas coisas. Por fim, consegui um emprego em um açougue do bairro. O salário não era nenhuma maravilha, mas ao menos eu teria minha independência.


No fim do expediente, eu não voltei para casa, eu fui visitar Angelica. Estava ansiosa para o nosso reencontro. Assim que eu cheguei, eu a vi chegar em casa. Ela me convidou para ir a um botequim na rua dela e conversamos por algumas horas. Ela me contou que estava um pouco infeliz com a sua vida aqui. Disse que a vida que ela encontrou aqui era muito estressante, que ela não conseguia suportar o caos da cidade grande. Eu até entendo. Sinais de trânsito, pessoas andando com pressa... Esse tipo de coisa pode levar a loucura. Ela também reclamou de alguém que a estava perseguindo. Parece que houve algum desentendimento no trabalho. Não sei. Ela estava exausta e disse que gostou muito de me ver, pediu para que eu voltasse mais vezes. E foi assim que nos despedimos. Mal sabia eu, pela última vez.


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