Todo dia, na volta da escola, uma senhora passava por mim. Ela sempre dizia "boa tarde", mas, contrariando todas as normas de educação que já foram ensinadas a mim, eu nunca respondi.
Um dia, mais à frente, na esquina, vi essa senhora parada, com um monte de bolsas nas mãos, a coluna encurvado de um modo que parecia que iria quebrar. Uma moça gritava com ela, gesticulava e falava mais alto, como se a velhinha você um pouco surda. Quando a moça saiu,me aproximei e vi que a senhora estava chorando. Perguntei seu nome. "Maria." Se estava bem para ir para casa. "Não." Se queria companhia. "Sim."
Nós andamos até a praça da cidade e eu comprei sorvetes para nós. Ela contou que a moça era sua filha e que elas não se entendiam mais há tempos. Ela falou sobre sua vida e seus problemas e eu nem me importei com a hora. Até que percebi que estava escuro e que minha mãe havia me ligado várias vezes. Então, eu a levei pra casa e segui para a minha, que era mais abaixo, na mesma rua. Da janela do meu quarto, dava para ver seu quintal dos fundos.
Todos os dias eu a encontrava no meio do caminho e a acompanhava até sua casa. Quando eu tinha tempo, ela me contava histórias. Mas aí a semana de provas chegou e eu não pude mais ficar à toa por aí. Eu só via a luz da varanda dos fundos acender e apagar. Até que, uma noite, ela não acendeu.
Duas semanas mais tarde, eu tive que me mudar. Então fui me despedir da Dona Maria. Mas não foi ele que me atendeu.
A filha dela (aquela moça que havia gritado com a mesma), estava colocando caixas em um carro. Perguntei a ela o que havia acontecido. "Minha mãe faleceu", ela fungou. Então o céu desabou. Um temporal nos atingiu e minhas lágrimas encharcavam minhas bochechas.
"Filha?", minha mãe chamou preocupada. Eu só conseguia lembrar das tardes com a Dona Maria, seus chás e suas histórias. Minha mãe, apesar de estar preocupada, não fez perguntas.
Meses mais tarde, eu já estava esquecendo-a pouco a pouco. Eu já não dava mais "boa tarde"para as pessoas que passavam por mim na rua. E, novamente, eu me tornava uma completa ignorante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário