domingo, 6 de setembro de 2015

Completamente Ignorante

Todo dia, na volta da escola, uma senhora passava por mim. Ela sempre dizia "boa tarde", mas, contrariando todas as normas de educação que já foram ensinadas a mim, eu nunca respondi. 
Um dia, mais à frente, na esquina, vi essa senhora parada, com um monte de bolsas nas mãos, a coluna encurvado de um modo que parecia que iria quebrar. Uma moça gritava com ela, gesticulava e falava mais alto, como se a velhinha você um pouco surda. Quando a moça saiu,me aproximei e vi que a senhora estava chorando. Perguntei seu nome. "Maria." Se estava bem para ir para casa. "Não." Se queria companhia. "Sim."
Nós andamos até a praça da cidade e eu comprei sorvetes para nós. Ela contou que a moça era sua filha e que elas não se entendiam mais há tempos. Ela falou sobre sua vida e seus problemas e eu nem me importei com a hora. Até que percebi que estava escuro e que minha mãe havia me ligado várias vezes. Então, eu a levei pra casa e segui para a minha, que era mais abaixo, na mesma rua. Da janela do meu quarto, dava para ver seu quintal dos fundos.  
Todos os dias eu a encontrava no meio do caminho e a acompanhava até sua casa. Quando eu tinha tempo, ela me contava histórias. Mas aí a semana de provas chegou e eu não pude mais ficar à toa por aí.  Eu só via a luz da varanda dos fundos acender e apagar. Até que, uma noite, ela não acendeu. 
Duas semanas mais tarde, eu tive que me mudar. Então fui me despedir da Dona Maria. Mas não foi ele que me atendeu. 
A filha dela (aquela moça que havia gritado com a mesma), estava colocando caixas em um carro. Perguntei a ela o que havia acontecido. "Minha mãe faleceu", ela fungou. Então o céu desabou. Um temporal nos atingiu e minhas lágrimas encharcavam minhas bochechas. 
"Filha?", minha mãe chamou preocupada. Eu só conseguia lembrar das tardes com a Dona Maria, seus chás e suas histórias. Minha mãe, apesar de estar preocupada, não fez perguntas. 
Meses mais tarde, eu já estava esquecendo-a pouco a pouco. Eu já não dava mais "boa tarde"para as pessoas que passavam por mim na rua. E, novamente, eu me tornava uma completa ignorante.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário