sexta-feira, 3 de julho de 2015

Difícil dizer

Acabou.

Chega de poemas.
Chega de poesias.
Chega de escrever.

Não é opcional.
Não é justo.
Não é evitável.

Chega de formalidades.
Chega de padrões.
Fodam-se os padrões.
E que se danem as estrofes.

É o último dia, não importa o uso que eu faça dessas últimas horas.
Eu nem deveria estar aqui. Afinal, não há mais felicidade ou prazer em escrever.
Há um tempo atrás eu escrevia sobre tudo.
Escrevia sobre ela.
Escrevia sobre mim.
Escrevia até sobre escrever.

Mas agora não há mais nada. Tudo vai por água abaixo. Nada mais é vivo, nada mais me alegra.
Para quê criar? Não devo fazer uso da criatividade. Estou criando algo que deixará de existir em poucas horas.

Muitos devem estar aproveitando a vida ao máximo. Muitos devem estar fazendo tudo o que sempre quiseram.
Mas e quem, como eu, já estava feliz com a vida que tinha?
Hoje é o meu dia de tristeza e ócio, assim como era a rotina de vários outros.

Não tenho mais o que dizer, muito menos o que fazer.
Tudo o que eu fizer vai ter menos de um dia de vida. Os textos não serão mais lidos, as lágrimas nunca serão reconhecidas.

Chega de escrever, tudo o que eu posso fazer é esperar. Perdi a vida no início do dia. Perdi o sorriso, perdi a alma, perdi a criatividade, perdi tudo o que tinha.


Tudo o que resta é essa velha e inanimada carcaça, que espera pelo sopro de piedade que afastará esse corpo de todas as angústias. Que afastará tudo de tudo.

Um comentário:

  1. Gostei da narrativa mas apenas achei muito triste a descrição. Gostaria de ler coisas mais vivas, mais cheias de amor. A vida é tão linda!

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