Querida P.,
Escrevo-lhe em
despedida, pois vejo que nossos dias em conjunto estão contados. Muito sobre
mim você ainda não sabe, fiz questão de esconder, então resolvo contar-lhe
tudo, para podermos seguir nossos caminhos sem ressentimento.
Não é novidade que
quando lhe conheci estava destruído. Eu havia jogado toda a minha vida para o
alto, mas você me fez recobrar os cacos que deixei no chão. Logo que nos
falamos pela primeira vez, contei tudo. Falei de tudo o que havia de ruim na
minha vida, todo o desespero e todos os problemas que eu encarava todo dia.
Você me salvou. Meu ouviu e fez surgir a felicidade de uma imensidão de caos
turbulento.
Então eu menti. Menti
porque tive medo. “Quando eu lhe dizia ‘me apaixono todo dia e é sempre a pessoa
errada’”, na verdade o errado era eu. Eu me apaixonava todo dia, e a cada dia
mais, porém todos os dias eu me apaixonava por você. Por que eu nunca lhe
disse? Porque eu tinha medo. Medo de magoar os outros. Medo de arruinar a sua
vida com o meu amor. Veja bem quantas vidas eu já arruinei e quantas cheguei
bem perto. Por que arriscar a sua vida, o seu coração?
E então eu me abri para
outras paixões. Vivi outros romances, de forma escancarada, aberta. Eu pedi mil
vezes em silêncio para você se declarar. Se você tivesse se declarado, eu
também teria. Mas você optou pelo silêncio. Quis me deixar viver outras
estórias. Agora, eu lhe deixo viver as tuas.
Certa vez, você me
mostrou um texto, que contava a estória de nós dois e do nosso amor. Quando
perguntada, negou que se tratasse de nós. Hoje, faço o mesmo. Não me pergunte
se esta carta é para você, pois nunca hei de admitir. Mas se no fundo, ainda
lhe restar algum amor por mim, não me pergunte nada, só me beije, e saberei que
nossa estória ainda tem salvação.
De outra forma, isto é
um adeus. Deixo que abril, mês de Aprus,
mês de Vênus, mês do amor, feche
nosso mundinho e engula a chave. Hoje, retorno para a escuridão da qual você me
retirou. Meu coração pertence ao caos da depressão.
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