sábado, 28 de março de 2015

Era Outra Vez: Rumpelstiltskin

          Há incontáveis anos, em um reino esquecido de uma terra distante, uma poderosa tempestade castigava toda uma região e afligia o reino. Raios estouravam o teto de casas e barracos. Trovões assustavam as mais inocentes crianças. E a chuva inundava as ruas.
Nenhum humano lá seria insano o suficiente para deixar seu abrigo e se arriscar na tempestade. Mas havia alguém vagando perdido pelas ruas. Um pequeno e velho homem, que não era igual a nenhum outro, vestia roupas surradas e um capuz com um tom vermelho forte. Neste momento, percebera que estava na hora errada e no lugar errado.
Sua corcunda pesava, seus pés afundavam na lama, seu estômago vazio roncava e seus músculos começavam a ceder ao cansaço. Seu nariz grande escorria e suas orelhas pontudas doíam à sinfonia dos trovões. Ele tentava praguejar, mas sua garganta rouca já não mais permitia. Sentindo a morte próxima como nunca antes sentiu, o homenzinho se entregou. E ali, naquele canto perto de uma casa qualquer, seu corpo ficou estirado e foi coberto pela lama, o que manteria sua presença oculta para qualquer um que ali passasse no dia seguinte. E ali, por eras seria esquecido, se tivesse realmente morrido, mas sua hora ainda não havia chegado.
...
Ao amanhecer de um novo dia, a tempestade havia cessado. Dando lugar para o raiar de um tímido Sol, escondido atrás de muitas nuvens. Mas este Sol era suficiente para tornar visível a tristeza do povo, que perdera suas casas na cruel tempestade. Porém, contrariando todas as expectativas, uma carruagem adornada com ouro e acompanhada de alguns cavaleiros montados, cruzava as ruas da cidade mais próxima do castelo.
Era uma comitiva limpa, brilhante e imponente, que veio como um presente de Deus. Isto trouxe aos cidadãos uma mistura de sentimentos: ódio, devoção, medo e respeito. Logo o cocheiro puxou as rédeas e interrompeu o galopar dos cavalos da carruagem, e pararam em uma das praças que podiam acomodar o tamanho do transporte real.
De dentro da carruagem, e com bastante relutância, saiu o próprio rei. Enojado com o ambiente que o cercava, ele dispensa qualquer comunicação com seu povo e volta sua total atenção para a observação de seu castelo ao longe. Eis que finalmente decide iniciar seu despejo de reclamações diário sobre seu conselheiro que mal saía da carruagem. “Veja que catástrofe! Muros e torres de meu belíssimo castelo destruídos. Reduzidos a poeira. O que fiz eu para merecer tal castigo? Como serei visto diante dos outros nobres e realezas de outros reinos?” E nesse ritmo o rei prosseguia, nem dando ao menos oportunidade de resposta a seu fiel conselheiro.
“Espero que já tenha planos para resolver esse meu dilema. E agora ao meu segundo assunto a tratar nesse lado asqueroso do meu reino: Onde, por Deus, se encontra meu filho que veio cavalgando nesta direção pela manhã?” Aflito com mais uma pergunta que a princípio não sabia a resposta, o conselheiro gagueja, mas logo é abençoado com a solução para o questionamento do rei bem diante de seus olhos. “Seu filho, o príncipe, não seria aquele, majestade?” Aponta o conselheiro para trás do rei, na direção de um casal de mãos dadas, trocando juras de amor e caminhando na direção da praça.
O príncipe não vestia roupas nobres, de forma alguma, mas sim peças de roupas improvisadas e trapos, para se misturar na multidão. Apenas seu rosto dotado de um sorriso carismático e um olhar confiante chamavam atenção de qualquer um que o mirasse. A mulher não vestia roupas melhores das que de seu amado, mas era dotada de uma beleza magnífica, porém acanhada como era, não chamava muita atenção. O que chamava certa atenção para a jovem era sua protuberante e redonda barriga. Ela estava grávida e não havia como negar.
O rei, espumando de raiva pela boca, foi ao encontro de seu filho, seguido de seu conselheiro e seus guardas. “Mas que diabos você faz aqui no meio desta gente, meu filho?” O príncipe ficou extremamente surpreso ao encontrar o pai fora do castelo. “Pai? O que você faz aqui? Nunca sai do castelo.” Uma grande discussão tomou conta, chamando ainda mais a atenção do povo. Ali o rei descobriu, assim como todos ao redor, que o príncipe havia se apaixonado por uma plebéia que conhecera durante uma caminhada, e ainda por cima a havia engravidado.
Foi então que tomado pela raiva o rei condenou a jovem moça ao calabouço. “Não irei fazer nada com você, meu amado filho. Porém, quanto a ela... Guardas! Levem esta jovem petulante para as masmorras para que sinta na pele que jamais chegará ao nível de nossa realeza.” E obedecendo suas ordens, dois guardas tomaram a jovem dos braços do príncipe e começaram a arrastá-la para os cavalos. “Saber que nunca a verá novamente, e nem nunca porá os olhos nesta sua cria fruto de uma relação imprópria, esta será sua punição, meu príncipe.” Proferiu o rei.
“Não, meu pai! Eu imploro!” O príncipe se ajoelhava na lama diante dos pés de seu pai e seus olhos transbordavam tristeza. “Esta mulher... Eu nunca conheci ninguém tão rica de coração e especial quanto ela. Por favor, amado rei, poupe-a!” A mulher gritava de desespero prezando pela companhia de seu amor e pelo bem estar de seu filho. Os outros plebeus ao redor da tumultuada discussão estavam chocados com o drama. Porém, dentre todos os presentes naquele alvoroço, havia uma pessoa feliz. O próprio rei regozijava pelo seu poder finalmente dobrar a coragem de seu filho, e assim, decidiu prolongar esse sentimento.
“Especial? Que qualidades especiais essa mulher teria?” Perguntou em tom de deboche. Mas o príncipe não conhecia sequer uma que pudesse comover seu pai a soltá-la. Ele suava e tremia com o destino de sua amada em mãos. “Entenda, meu querido filho. A única coisa que mais preciso neste momento, é reparar este meu pobre castelo moribundo... E talvez... Ajudar esse pobre povo que sofreu tanto com a tempestade quanto eu. Para isso, eu precisarei de ouro. Ela é capaz de me conseguir ouro com suas qualidades especiais?” Visivelmente nervoso, o jovem procurava respostas e as formou com as palavras que lhe vieram à mente. “Ela pode tornar palha em ouro.” Disse ao se lembrar de palha quando avistou os cavalos na praça. “Precisará apenas de uma roca.” Completou quando se lembrou do instrumento utilizado para costurar os pedaços de trapo que vestia.
O rei soltou uma risada contida e olhou para seu conselheiro que, por sua vez, não parecia concordar com a falta de compostura do rei na discussão. “Muito bem, então assim será. Guardas, levem-na para as masmorras e, junto dela, um carregamento de palha. Ela terá até amanhã de manhã para tornar tudo que lhe for entregue em ouro, ou sofrerá consequências ainda piores das que havia imaginado anteriormente.”
Depois de um breve agradecimento, o príncipe correu aos braços de sua amada para consolá-la. “Eu não posso fazer isso. Eu não conseguirei. Eu estou com medo, meu amor.” Chorava e soluçava a jovem, que não conseguia conceber a dor que estava para sofrer. “Não se preocupe, minha querida. Eu vou resolver isso de alguma forma.” Prometeu ele em resposta, mas não fazia ideia do que poderia fazer nessa situação.
Dali, a realeza seguiu de volta para o castelo, e os plebeus para suas casas, ou o que havia sobrado delas. Por alguns instantes não houve qualquer sinal de vida naquela rua. Mas o silêncio foi quebrado por uma risada estridente vinda de um canto escuro. O velho homenzinho, que caminhava na tempestade da noite anterior, se levantava da cobertura de lama que se formara sobre ele. Esfregava as mãos, gargalhava e dava pulos de alegria. Ele acabava de ouvir todo o dilema do casal e com isso ganhou forças novamente, pois encontrara a chance que precisava para recolocar suas artes em prática.
...
Já havia anoitecido, e nenhuma palha havia sido tornada em ouro. A jovem inconsolável estava em prantos encolhida contra uma coluna da escura masmorra. Sua única esperança estava em seu amado. Imaginava que ele fosse entrar a qualquer hora pela pesada porta de ferro, descer as cansativas escadas e tomá-la em seus braços para mais uma vez recitar juras de amor e unirem seus corpos com a ardente paixão que possuíam um pelo outro.    Mas nada disso chegou sequer perto de acontecer.
Como raios rasgando o céu, estrondos aterraram o silêncio mortal do calabouço. As tábuas das escadas rangiam e se contorciam sem que ninguém as pisasse. As correntes e algemas eram arrastadas pelo chão sem que ninguém as puxasse. As portas das celas batiam sem que ninguém as empurrasse. O coração da bela moça palpitava e quase saia pela boca. Ela recuou até o canto mais próximo na tentativa de fugir de seja lá o que estivesse vindo, mas já era tarde. Antes que tocasse as paredes, ouviu uma voz rouca e fina vinda de trás dela. “Olá, bela donzela. Por acaso necessitaria de alguma ajudar?” Disse o mesmo velho homenzinho, com um sorriso podre de orelha a orelha.
Ela gritou e tentou correr, mas suas pernas tremiam demais para isso. A única coisa que conseguiu foi tropeçar e ficar estirada no chão, temendo a aproximação da figura. “Não tenha medo. Eu não vim lhe causar mal.” Disse ele em resposta. “Apenas ouvi suas lamentações por onde estava passando, e pensei que poderia ajudar esta bela moça.”
Ainda em prantos a jovem tentava recuar. “Quem é você? É o próprio diabo? Se quer me ajudar, por que me assombrou com estes sons horríveis?” Ele soltou uma pequena risada e respondeu. “Não sou o diabo. Sou simplesmente um amigo. Peço sinceras desculpas por assustá-la, mas esta é minha natureza, não poderia agir diferente. Agora, por que não me conta o que lhe aflige tanto.” Mesmo que ainda desconfiada do homenzinho, ela decidiu contar sua história. E ele ouviu calmamente sentado em um monte de feno parecendo intrigado, como se não soubesse nada a respeito.
“Bem, minha querida. Eu acredito ser capaz de livrá-la deste engodo. Diferente de você eu tenho as capacidades especiais necessárias para esse trabalho...” A mulher recusou prontamente antes que ele continuasse. “Não será necessário. O meu amado príncipe... Ele me prometeu que faria de tudo para me salvar.” Imitando um tom triste o corcunda discordou. “Duvido que isso aconteça. Fiquei sabendo que o rei mandou os guardas prenderem o próprio filho em seu cômodo, para que ele fosse impedido de fazer qualquer coisa. Além disso, você não tem muitas horas restando para pensar em um plano melhor.” E a pobre grávida pôs-se a chorar novamente.
 “Não chore minha querida. Já disse que irei ajudá-la. Mas é claro que tudo tem um preço. Eu estou a muito tempo sem me alimentar. Forneça-me o alimento de que preciso, e eu lhe tirarei desta prisão. Então, temos um acordo?” Seduzida pela fala mansa do anão, e sem poder imaginar qualquer outra forma de sair de lá, ela concordou com um desesperado aceno de cabeça. O homenzinho cada vez mais feliz e contente, finalmente revelou um olhar maléfico. Aproximou-se silenciosamente e estendeu sua mão para que fechassem o acordo. Assim que ela apertou a mão dele, ele a agarrou e fincou seus dentes amarelos e podres em seu pulso, furando, rasgando e finalmente bebendo seu sangue. Aterrorizada, ela mal conseguiu se defender, mas logo entendeu que aquele era o alimento que o velho queria, o alimento que ele precisava. Sem mais forças ela desmaiou no chão, e quando ficou satisfeito, ele se dirigiu a roca de fiar e começou a trabalhar.
...
A pesada porta da entrada do calabouço foi aberta, afastando um pouco as trevas do local. Desceram o rei, seu conselheiro e o príncipe. Este correu para sua amante, que quando acordou, ficou tão surpresa quanto qualquer outro por ver a sala repleta de fios dourados no lugar da palha. Mas não havia sinal de mais ninguém ali, além dela.
O príncipe se desculpava com sua amada pela sua ausência na noite e confirmava o que o velho corcunda disse na noite passada. Enquanto isso o rei pulava nos montes de fios dourados e gargalhava. Nunca fora tão fácil e rápido conseguir tanto ouro. Ele não poderia deixar essa garota escapar de suas mãos. Rapidamente disfarçou sua alegria e se dirigiu a seu conselheiro e seu filho. “Devo parabenizá-la por ter conseguido. Mas a quantidade de palha era muito pequena, o que torna uma tarefa bem fácil. Meu conselheiro, quero que mande alguns de meus fiéis cavaleiros recolherem todo a palha do castelo. Veremos se ela será capaz de transformar uma quantidade maior em ouro.“
Indignado o príncipe questionou. “O que está fazendo, pai? Isso já não foi o suficiente?” E em resposta o rei deu mais provas de seu mau caráter. “Estou apenas me certificando de que você escolheu a pessoa certa para desposar, meu amado filho. Ah, e a propósito, conselheiro, mande alguém recolher este ouro. Vou precisar dele para... Os interesses do reino.” O sorriso estampado no rosto da garota se esmiuçara, dando lugar a uma expressão boquiaberta e descrente. Seu amado tentou consolá-la. “Não se preocupe meu amor, é simplesmente fazer o que fez na noite passada. Eu lhe prometo que ficará tudo bem.”
...
“Senhor? Você está aí? Preciso de sua ajuda novamente. Por favor, apareça para mim.” Chamava a tímida moça à noite enquanto procurava entre os montes de palha, que agora pareciam ser o dobro, ou até o triplo, da noite anterior. Quando estava quase desistindo, o espetáculo de horrores ganhou vida novamente e os sons assombrosos encheram as masmorras por completo. E logo o homenzinho apareceu de novo como mágica. E estava visivelmente feliz por ser necessário mais uma vez.
Com o pedido feito e aceito, a jovem lhe estendeu o braço esquerdo. O seu direito ainda se recuperava da mordida enfaixado com algumas tiras de seu vestido. Mas antes que ele fizesse qualquer coisa, acrescentou algo. “Desta vez, minha querida, minha fome está um pouco maior... Espero que não se importe.” Mal pode responder, e foi agarrada. Dois de seus dedos foram arrancados da mão sem qualquer piedade, roídos e engolidos pelo ser bizarro. Agora gritos de dor se espalharam pelo ambiente, abafando o barulho da roca tornando palha em ouro.
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O terceiro dia no calabouço começou assim como o primeiro. Os dois amantes se beijavam e abraçavam. E apesar do príncipe achar estranhos os machucados da namorada, decidiu não comentar nada. As atitudes do rei também se repetiram. Ele ainda queria mais. “Realmente, devo dizer que estou surpreso. Mas ainda não estou inteiramente convencido de suas habilidades. Quero que tragam toda a palha da cidade mais próxima para cá.” O príncipe não se conformava e tentava libertar a amada de uma vez, mas o rei era irredutível. “Entendo sua preocupação por alguém tão especial. Mas não tema, eu lhe prometo que esta será sua última noite trancada aqui. Depois disso, se ela conseguir fazer o que peço, estará livre.”
Os amantes se despediram mais uma vez com a promessa de se encontrarem ao amanhecer do novo dia. Algumas horas depois o carregamento havia chegado e por pouco não lotava o calabouço. Eram pilhas e mais pilhas que quase alcançavam o teto. O desespero da mulher aumentava cada vez mais. Ela mal podia imaginar o que aquele pequeno monstro viria a pedir a seguir.
...
“Boa noite, adorável senhorita. Aparentemente precisa da ajuda de seu amigo mais uma vez” O pequeno velho era cortês, mas seu olhar se tornava mais assassino a cada noite em que se encontravam. “Você não é meu amigo. Que tipo de amigo furaria meu pulso para beber meu sangue, ou arrancaria a força meus dedos da mão?” Indignava-se a jovem. “O tipo de amigo que já salvou a sua vida duas vezes. Você não me pediu coisas simples até agora. E como disse quando nos encontramos, tudo nesta vida tem um preço. Conforme-se. Se quiser meus serviços, deve entender que meus pagamentos aumentam conforme a demanda.” Ele retrucou. A voz amigável já não existia mais.
“Muito bem. Qual será seu preço desta vez?” Perguntou ela com tristeza em cada palavra proferida. “Notei quando nos conhecemos que está grávida. E desde quando voltei a me alimentar, meu apetite tem ficado mais voraz. Quero seu filho. Assim que nascer.” Erguia as sobrancelhas sugestivamente. “Meu filho? Eu não seria capaz...” Mais que assustada, se sentia insultada. “Você sabe que não tem escolha. Só com meus poderes será capaz de sobreviver e viver ao lado do príncipe. Entregue esta primeira criança e estará livre para ter quantos outros filhos quiser com seu homem.” Finalizou.
Com muito pesar e lágrimas ela aceitou. Apertaram suas mãos, e o velho pôs-se a trabalhar. Desta vez ele cantava de felicidade, agilizando o processo. Antes do amanhecer, toda a palha de uma cidade inteira havia se tornado ouro. Ouro este, que nas mãos do rei, nunca retornaria para a cidade.
...
Pela terceira e última vez, o mesmo grupo desceu as longas escadas até a mulher e o ouro. O rei chorava de emoção com a riqueza recém adquirida. E a jovem tentava esquecer o trato da noite passada e aproveitar a companhia de seu amado. “Case-se com esta mulher o mais rápido possível, meu filho. Não encontrará ninguém como ela jamais.” E assim os dois fizeram. A cerimônia fora belíssima, com enfeites feitos de puro ouro e com a presença de diversos nobres deste e outros reinos. E a noiva então, finalmente teve a oportunidade de rever a família, que estava extremamente feliz com o acontecimento.
Pouco mais de um mês depois, a jovem deu a luz ao seu primeiro filho. O que seria mais um acontecimento memorável para o casal, mas na noite do nascimento da criança, o corcunda saltitante retornara para receber seu pagamento. O assoalho rangeu sem ser pisado. As janelas bateram sem serem empurradas. A porta do quarto do casal foi aberta sem que fosse puxada. E ali estava ele, com um olhar vermelho e maligno. Aproximou-se do berço da criança, mas antes que o tocasse, a afiada ponta de uma espada tocou seu pescoço.
“Quem é você criatura? E por que tenta pegar meu primogênito?” Indagou o príncipe num tom ameaçador. O velho afastou-se e se apresentou como um antigo amigo da esposa, e toda a verdade veio à tona. O amor do príncipe por sua mulher não diminuiu, mas ele não poderia deixar que seu filho fosse tomado. Desferiu um golpe com sua majestosa espada, mas antes mesmo de aproximar novamente a lâmina do alvo, com um breve estalar de dedos do pequeno ser a espada tornou-se poeira. “Não há arma no mundo que possa me impedir de cobrar meu pagamento.” Proferiu orgulhoso.
Indefesos, o casal em instantes se viu implorando de joelhos por clemência ao seu primeiro filho. Havia nascido a pouco, mas já era o maior tesouro do príncipe e sua esposa nunca esteve em paz após fazer o acordo. E sentindo seu ego aumentar, o homenzinho cedeu. Criou uma aposta, a qual sabia que ganharia. O casal deveria descobrir seu nome dentro do prazo de três dias. Caso não acertassem, o bebê seria devorado, e os dois se tornariam seus servos. Sem saída, ambos concordaram, mas acrescentaram algo. “Porém, se descobrirmos seu nome, você irá desaparecer deste reino e de nossas vidas. Nunca mais voltará para nos assombrar.” Indiferente a com isso e portando um sorriso diabólico o velho apertou a mão dos dois e se despediu. Nenhum dos dois conseguiu mais dormir aquela noite.
Ao nascer do Sol, o príncipe convocou todos os seus servos e os enviou para a missão de listarem todos os nomes do reino. Ao cair da noite, ele já tinha em mãos algumas listas com diversos nomes. O anão corcunda deveria ser chamado por algum daqueles nomes, assim pensava. Novamente em seu quarto o terror se repetiu e o velho surgiu. Todos os nomes em mãos foram citados, mas receberam não seguido de não. “Vocês tem apenas mais dois dias.“ Se despediu depois que todos os nomes foram ouvidos. Ele nem olhava para o homem, ou a mulher, seu olhar era fixo sobre a criança.
No segundo dia mais listas de nomes chegaram. Novos nomes foram ditos e antigos foram repetidos, mas nenhum deles era o correto. O velho nem mais se dava ao trabalho de responder, apenas acenava a cabeça enquanto observava a criança e lambia os beiços. Mais tarde ele se despediu da mesma forma. “Vocês só tem apenas um dia agora. Aproveitem sua liberdade, pois logo vocês pertencerão a mim.”
Quando o pequeno homem desapareceu, o príncipe afoito inspecionou cada canto, fresta, dobra e compartimento de todo o cômodo e não encontrou nada. Mas ao chegar à varanda pôde encontrou o que procurava. O homem escalava os muros do castelo com tamanha agilidade para pular em direção a floresta mais próxima do palácio.
“Eis meu plano, querida: Irei armado e acompanhado de fortes cavaleiros até a floresta onde se encontra aquele monstro. Lá eu o combaterei e o forçarei a partir.” Proclamou o príncipe. Mas mesmo com todas as objeções de sua esposa, ele assim fez.
...
Após algumas horas de caminhada na densa floresta que mal permitira que a luz tocasse o chão, o grupo avistou uma clareira. Nela havia uma fogueira envolta por parafernálias e objetos avulsos, mas o que saltava a vista era o bizarro anão magricela saltitando e cantando. “Criança assada esta noite eu irei comer. Meus novos servos eu irei torturar. Bom mesmo é ninguém saber que meu nome é Rumpeltiltskin.” Assim que ouviu seu nome, o príncipe ordenou o ataque. Mas mesmo que pego de surpresa, nenhum deles foi um oponente problemático. Rumpeltilskin desviava de qualquer ataque pulando por suas cabeças e estalando os dedos fez as armas e armaduras de qualquer cavaleiro desaparecer, e quando via oportunidade, cortava a garganta de qualquer um. Horrorizado, o príncipe tentou fugir, mas distraído com a confusão, ele tropeçou e bateu a cabeça em alguma tora, desmaiando imediatamente e caindo sobre um arbusto.
...
Nomes novos, nomes repetidos, nomes inventados. Nenhum deles era o correto. A jovem mãe, já começava a se desesperar, sem o marido para reconfortá-la e tendo que lidar com o corcunda bizarro, ela se sentia trancada no calabouço mais uma vez. Ele já se preparava para por as mãos no recém-nascido, mas foi interrompido por um grito. “Espere! Rumpel... Rumpelstiltskin! Este é seu nome!” O velho parou e olhou para trás perplexo para ver o príncipe imundo entrar no quarto. “Como descobriu? Foi o diabo que lhe contou! Não é possível!” O assoalho começou a ranger e se contorcer. A cama começou a tremer. Os vidros se partiram e as pinturas foram rasgadas.
“Sofri um acidente na minha emboscada e acabei me atrasando para voltar. Peço perdão, meu amor.” Se dirigiu o príncipe para sua esposa. “Você! É claro que você foi o responsável! Como não o vi? Amaldiçoados sejam vocês! Sofrerão a minha ira!” Berrava Rumpelstiltskin. “Você não é bem vindo aqui, então cumpra sua parte do acordo e parta para longe, onde nunca mais iremos vê-lo ou nos fará mal.” Ordenou a mulher. Indignado e tomado de ira, ele praguejou mais e mais enquanto se dirigia a varanda. As portas arrancaram-se sozinhas de suas dobradiças e ele pulou da beirada. Depois disso, nunca mais fez acordos ou sequer foi visto naquele reino, assim foi definido na aposta.
Os dois amantes se entregaram um ao outro. Suas carícias, porém, não foram muito longe. O próprio rei entrava no quarto buscando explicações por tamanhos estrondos e estragos nas proximidades do cômodo. “Na verdade, pouco me importa a explicação. Tenho motivos mais importantes para estar aqui. Vim atrás de sua esposa, meu amado filho. Creio necessitar de seus incríveis dons mais uma vez.” Assim falou o rei.


FIM



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