Há incontáveis anos, em um reino esquecido de uma terra
distante, uma poderosa tempestade castigava toda uma região e afligia o reino.
Raios estouravam o teto de casas e barracos. Trovões assustavam as mais
inocentes crianças. E a chuva inundava as ruas.
Nenhum humano lá seria insano o
suficiente para deixar seu abrigo e se arriscar na tempestade. Mas havia alguém
vagando perdido pelas ruas. Um pequeno e velho homem, que não era igual a
nenhum outro, vestia roupas surradas e um capuz com um tom vermelho forte.
Neste momento, percebera que estava na hora errada e no lugar errado.
Sua corcunda pesava, seus pés
afundavam na lama, seu estômago vazio roncava e seus músculos começavam a ceder
ao cansaço. Seu nariz grande escorria e suas orelhas pontudas doíam à sinfonia
dos trovões. Ele tentava praguejar, mas sua garganta rouca já não mais
permitia. Sentindo a morte próxima como nunca antes sentiu, o homenzinho se
entregou. E ali, naquele canto perto de uma casa qualquer, seu corpo ficou
estirado e foi coberto pela lama, o que manteria sua presença oculta para
qualquer um que ali passasse no dia seguinte. E ali, por eras seria esquecido,
se tivesse realmente morrido, mas sua hora ainda não havia chegado.
...
Ao amanhecer de um novo dia, a
tempestade havia cessado. Dando lugar para o raiar de um tímido Sol, escondido
atrás de muitas nuvens. Mas este Sol era suficiente para tornar visível a tristeza
do povo, que perdera suas casas na cruel tempestade. Porém, contrariando todas
as expectativas, uma carruagem adornada com ouro e acompanhada de alguns
cavaleiros montados, cruzava as ruas da cidade mais próxima do castelo.
Era uma comitiva limpa, brilhante
e imponente, que veio como um presente de Deus. Isto trouxe aos cidadãos uma
mistura de sentimentos: ódio, devoção, medo e respeito. Logo o cocheiro puxou
as rédeas e interrompeu o galopar dos cavalos da carruagem, e pararam em uma
das praças que podiam acomodar o tamanho do transporte real.
De dentro da carruagem, e com
bastante relutância, saiu o próprio rei. Enojado com o ambiente que o cercava,
ele dispensa qualquer comunicação com seu povo e volta sua total atenção para a
observação de seu castelo ao longe. Eis que finalmente decide iniciar seu
despejo de reclamações diário sobre seu conselheiro que mal saía da carruagem.
“Veja que catástrofe! Muros e torres de meu belíssimo castelo destruídos.
Reduzidos a poeira. O que fiz eu para merecer tal castigo? Como serei visto
diante dos outros nobres e realezas de outros reinos?” E nesse ritmo o rei
prosseguia, nem dando ao menos oportunidade de resposta a seu fiel conselheiro.
“Espero que já tenha planos para
resolver esse meu dilema. E agora ao meu segundo assunto a tratar nesse lado
asqueroso do meu reino: Onde, por Deus, se encontra meu filho que veio
cavalgando nesta direção pela manhã?” Aflito com mais uma pergunta que a
princípio não sabia a resposta, o conselheiro gagueja, mas logo é abençoado com
a solução para o questionamento do rei bem diante de seus olhos. “Seu filho, o
príncipe, não seria aquele, majestade?” Aponta o conselheiro para trás do rei,
na direção de um casal de mãos dadas, trocando juras de amor e caminhando na
direção da praça.
O príncipe não vestia roupas
nobres, de forma alguma, mas sim peças de roupas improvisadas e trapos, para se
misturar na multidão. Apenas seu rosto dotado de um sorriso carismático e um
olhar confiante chamavam atenção de qualquer um que o mirasse. A mulher não vestia
roupas melhores das que de seu amado, mas era dotada de uma beleza magnífica,
porém acanhada como era, não chamava muita atenção. O que chamava certa atenção
para a jovem era sua protuberante e redonda barriga. Ela estava grávida e não
havia como negar.
O rei, espumando de raiva pela
boca, foi ao encontro de seu filho, seguido de seu conselheiro e seus guardas. “Mas
que diabos você faz aqui no meio desta gente, meu filho?” O príncipe ficou
extremamente surpreso ao encontrar o pai fora do castelo. “Pai? O que você faz
aqui? Nunca sai do castelo.” Uma grande discussão tomou conta, chamando ainda
mais a atenção do povo. Ali o rei descobriu, assim como todos ao redor, que o
príncipe havia se apaixonado por uma plebéia que conhecera durante uma caminhada,
e ainda por cima a havia engravidado.
Foi então que tomado pela raiva o
rei condenou a jovem moça ao calabouço. “Não irei fazer nada com você, meu
amado filho. Porém, quanto a ela... Guardas! Levem esta jovem petulante para as
masmorras para que sinta na pele que jamais chegará ao nível de nossa realeza.”
E obedecendo suas ordens, dois guardas tomaram a jovem dos braços do príncipe e
começaram a arrastá-la para os cavalos. “Saber que nunca a verá novamente, e
nem nunca porá os olhos nesta sua cria fruto de uma relação imprópria, esta
será sua punição, meu príncipe.” Proferiu o rei.
“Não, meu pai! Eu imploro!” O
príncipe se ajoelhava na lama diante dos pés de seu pai e seus olhos
transbordavam tristeza. “Esta mulher... Eu nunca conheci ninguém tão rica de
coração e especial quanto ela. Por favor, amado rei, poupe-a!” A mulher gritava
de desespero prezando pela companhia de seu amor e pelo bem estar de seu filho.
Os outros plebeus ao redor da tumultuada discussão estavam chocados com o
drama. Porém, dentre todos os presentes naquele alvoroço, havia uma pessoa
feliz. O próprio rei regozijava pelo seu poder finalmente dobrar a coragem de
seu filho, e assim, decidiu prolongar esse sentimento.
“Especial? Que qualidades
especiais essa mulher teria?” Perguntou em tom de deboche. Mas o príncipe não
conhecia sequer uma que pudesse comover seu pai a soltá-la. Ele suava e tremia
com o destino de sua amada em mãos. “Entenda, meu querido filho. A única coisa
que mais preciso neste momento, é reparar este meu pobre castelo moribundo... E
talvez... Ajudar esse pobre povo que sofreu tanto com a tempestade quanto eu.
Para isso, eu precisarei de ouro. Ela é capaz de me conseguir ouro com suas
qualidades especiais?” Visivelmente nervoso, o jovem procurava respostas e as
formou com as palavras que lhe vieram à mente. “Ela pode tornar palha em ouro.”
Disse ao se lembrar de palha quando avistou os cavalos na praça. “Precisará
apenas de uma roca.” Completou quando se lembrou do instrumento utilizado para
costurar os pedaços de trapo que vestia.
O rei soltou uma risada contida e
olhou para seu conselheiro que, por sua vez, não parecia concordar com a falta
de compostura do rei na discussão. “Muito bem, então assim será. Guardas,
levem-na para as masmorras e, junto dela, um carregamento de palha. Ela terá
até amanhã de manhã para tornar tudo que lhe for entregue em ouro, ou sofrerá
consequências ainda piores das que havia imaginado anteriormente.”
Depois de um breve agradecimento,
o príncipe correu aos braços de sua amada para consolá-la. “Eu não posso fazer
isso. Eu não conseguirei. Eu estou com medo, meu amor.” Chorava e soluçava a
jovem, que não conseguia conceber a dor que estava para sofrer. “Não se
preocupe, minha querida. Eu vou resolver isso de alguma forma.” Prometeu ele em
resposta, mas não fazia ideia do que poderia fazer nessa situação.
Dali, a realeza seguiu de volta
para o castelo, e os plebeus para suas casas, ou o que havia sobrado delas. Por
alguns instantes não houve qualquer sinal de vida naquela rua. Mas o silêncio foi
quebrado por uma risada estridente vinda de um canto escuro. O velho
homenzinho, que caminhava na tempestade da noite anterior, se levantava da
cobertura de lama que se formara sobre ele. Esfregava as mãos, gargalhava e
dava pulos de alegria. Ele acabava de ouvir todo o dilema do casal e com isso
ganhou forças novamente, pois encontrara a chance que precisava para recolocar
suas artes em prática.
...
Já havia anoitecido, e nenhuma
palha havia sido tornada em ouro. A jovem inconsolável estava em prantos encolhida
contra uma coluna da escura masmorra. Sua única esperança estava em seu amado.
Imaginava que ele fosse entrar a qualquer hora pela pesada porta de ferro,
descer as cansativas escadas e tomá-la em seus braços para mais uma vez recitar
juras de amor e unirem seus corpos com a ardente paixão que possuíam um pelo
outro. Mas nada disso chegou sequer
perto de acontecer.
Como raios rasgando o céu,
estrondos aterraram o silêncio mortal do calabouço. As tábuas das escadas
rangiam e se contorciam sem que ninguém as pisasse. As correntes e algemas eram
arrastadas pelo chão sem que ninguém as puxasse. As portas das celas batiam sem
que ninguém as empurrasse. O coração da bela moça palpitava e quase saia pela
boca. Ela recuou até o canto mais próximo na tentativa de fugir de seja lá o
que estivesse vindo, mas já era tarde. Antes que tocasse as paredes, ouviu uma
voz rouca e fina vinda de trás dela. “Olá, bela donzela. Por acaso necessitaria
de alguma ajudar?” Disse o mesmo velho homenzinho, com um sorriso podre de
orelha a orelha.
Ela gritou e tentou correr, mas
suas pernas tremiam demais para isso. A única coisa que conseguiu foi tropeçar
e ficar estirada no chão, temendo a aproximação da figura. “Não tenha medo. Eu
não vim lhe causar mal.” Disse ele em resposta. “Apenas ouvi suas lamentações
por onde estava passando, e pensei que poderia ajudar esta bela moça.”
Ainda em prantos a jovem tentava
recuar. “Quem é você? É o próprio diabo? Se quer me ajudar, por que me
assombrou com estes sons horríveis?” Ele soltou uma pequena risada e respondeu.
“Não sou o diabo. Sou simplesmente um amigo. Peço sinceras desculpas por
assustá-la, mas esta é minha natureza, não poderia agir diferente. Agora, por
que não me conta o que lhe aflige tanto.” Mesmo que ainda desconfiada do homenzinho,
ela decidiu contar sua história. E ele ouviu calmamente sentado em um monte de
feno parecendo intrigado, como se não soubesse nada a respeito.
“Bem, minha querida. Eu acredito
ser capaz de livrá-la deste engodo. Diferente de você eu tenho as capacidades
especiais necessárias para esse trabalho...” A mulher recusou prontamente antes
que ele continuasse. “Não será necessário. O meu amado príncipe... Ele me
prometeu que faria de tudo para me salvar.” Imitando um tom triste o corcunda
discordou. “Duvido que isso aconteça. Fiquei sabendo que o rei mandou os
guardas prenderem o próprio filho em seu cômodo, para que ele fosse impedido de
fazer qualquer coisa. Além disso, você não tem muitas horas restando para
pensar em um plano melhor.” E a pobre grávida pôs-se a chorar novamente.
“Não chore minha querida. Já disse que irei
ajudá-la. Mas é claro que tudo tem um preço. Eu estou a muito tempo sem me
alimentar. Forneça-me o alimento de que preciso, e eu lhe tirarei desta prisão.
Então, temos um acordo?” Seduzida pela fala mansa do anão, e sem poder imaginar
qualquer outra forma de sair de lá, ela concordou com um desesperado aceno de
cabeça. O homenzinho cada vez mais feliz e contente, finalmente revelou um
olhar maléfico. Aproximou-se silenciosamente e estendeu sua mão para que
fechassem o acordo. Assim que ela apertou a mão dele, ele a agarrou e fincou
seus dentes amarelos e podres em seu pulso, furando, rasgando e finalmente
bebendo seu sangue. Aterrorizada, ela mal conseguiu se defender, mas logo entendeu
que aquele era o alimento que o velho queria, o alimento que ele precisava. Sem
mais forças ela desmaiou no chão, e quando ficou satisfeito, ele se dirigiu a
roca de fiar e começou a trabalhar.
...
A pesada porta da entrada do
calabouço foi aberta, afastando um pouco as trevas do local. Desceram o rei,
seu conselheiro e o príncipe. Este correu para sua amante, que quando acordou,
ficou tão surpresa quanto qualquer outro por ver a sala repleta de fios
dourados no lugar da palha. Mas não havia sinal de mais ninguém ali, além dela.
O príncipe se desculpava com sua
amada pela sua ausência na noite e confirmava o que o velho corcunda disse na
noite passada. Enquanto isso o rei pulava nos montes de fios dourados e
gargalhava. Nunca fora tão fácil e rápido conseguir tanto ouro. Ele não poderia
deixar essa garota escapar de suas mãos. Rapidamente disfarçou sua alegria e se
dirigiu a seu conselheiro e seu filho. “Devo parabenizá-la por ter conseguido.
Mas a quantidade de palha era muito pequena, o que torna uma tarefa bem fácil.
Meu conselheiro, quero que mande alguns de meus fiéis cavaleiros recolherem
todo a palha do castelo. Veremos se ela será capaz de transformar uma
quantidade maior em ouro.“
Indignado o príncipe questionou.
“O que está fazendo, pai? Isso já não foi o suficiente?” E em resposta o rei
deu mais provas de seu mau caráter. “Estou apenas me certificando de que você
escolheu a pessoa certa para desposar, meu amado filho. Ah, e a propósito,
conselheiro, mande alguém recolher este ouro. Vou precisar dele para... Os
interesses do reino.” O sorriso estampado no rosto da garota se esmiuçara,
dando lugar a uma expressão boquiaberta e descrente. Seu amado tentou
consolá-la. “Não se preocupe meu amor, é simplesmente fazer o que fez na noite
passada. Eu lhe prometo que ficará tudo bem.”
...
“Senhor? Você está aí? Preciso de
sua ajuda novamente. Por favor, apareça para mim.” Chamava a tímida moça à
noite enquanto procurava entre os montes de palha, que agora pareciam ser o
dobro, ou até o triplo, da noite anterior. Quando estava quase desistindo, o
espetáculo de horrores ganhou vida novamente e os sons assombrosos encheram as
masmorras por completo. E logo o homenzinho apareceu de novo como mágica. E
estava visivelmente feliz por ser necessário mais uma vez.
Com o pedido feito e aceito, a
jovem lhe estendeu o braço esquerdo. O seu direito ainda se recuperava da
mordida enfaixado com algumas tiras de seu vestido. Mas antes que ele fizesse
qualquer coisa, acrescentou algo. “Desta vez, minha querida, minha fome está um
pouco maior... Espero que não se importe.” Mal pode responder, e foi agarrada.
Dois de seus dedos foram arrancados da mão sem qualquer piedade, roídos e
engolidos pelo ser bizarro. Agora gritos de dor se espalharam pelo ambiente,
abafando o barulho da roca tornando palha em ouro.
...
O terceiro dia no calabouço
começou assim como o primeiro. Os dois amantes se beijavam e abraçavam. E
apesar do príncipe achar estranhos os machucados da namorada, decidiu não
comentar nada. As atitudes do rei também se repetiram. Ele ainda queria mais.
“Realmente, devo dizer que estou surpreso. Mas ainda não estou inteiramente
convencido de suas habilidades. Quero que tragam toda a palha da cidade mais
próxima para cá.” O príncipe não se conformava e tentava libertar a amada de
uma vez, mas o rei era irredutível. “Entendo sua preocupação por alguém tão
especial. Mas não tema, eu lhe prometo que esta será sua última noite trancada
aqui. Depois disso, se ela conseguir fazer o que peço, estará livre.”
Os amantes se despediram mais uma
vez com a promessa de se encontrarem ao amanhecer do novo dia. Algumas horas
depois o carregamento havia chegado e por pouco não lotava o calabouço. Eram
pilhas e mais pilhas que quase alcançavam o teto. O desespero da mulher aumentava
cada vez mais. Ela mal podia imaginar o que aquele pequeno monstro viria a
pedir a seguir.
...
“Boa noite, adorável senhorita.
Aparentemente precisa da ajuda de seu amigo mais uma vez” O pequeno velho era
cortês, mas seu olhar se tornava mais assassino a cada noite em que se
encontravam. “Você não é meu amigo. Que tipo de amigo furaria meu pulso para
beber meu sangue, ou arrancaria a força meus dedos da mão?” Indignava-se a
jovem. “O tipo de amigo que já salvou a sua vida duas vezes. Você não me pediu coisas
simples até agora. E como disse quando nos encontramos, tudo nesta vida tem um
preço. Conforme-se. Se quiser meus serviços, deve entender que meus pagamentos
aumentam conforme a demanda.” Ele retrucou. A voz amigável já não existia mais.
“Muito bem. Qual será seu preço
desta vez?” Perguntou ela com tristeza em cada palavra proferida. “Notei quando
nos conhecemos que está grávida. E desde quando voltei a me alimentar, meu
apetite tem ficado mais voraz. Quero seu filho. Assim que nascer.” Erguia as
sobrancelhas sugestivamente. “Meu filho? Eu não seria capaz...” Mais que
assustada, se sentia insultada. “Você sabe que não tem escolha. Só com meus
poderes será capaz de sobreviver e viver ao lado do príncipe. Entregue esta
primeira criança e estará livre para ter quantos outros filhos quiser com seu
homem.” Finalizou.
Com muito pesar e lágrimas ela
aceitou. Apertaram suas mãos, e o velho pôs-se a trabalhar. Desta vez ele
cantava de felicidade, agilizando o processo. Antes do amanhecer, toda a palha
de uma cidade inteira havia se tornado ouro. Ouro este, que nas mãos do rei,
nunca retornaria para a cidade.
...
Pela terceira e última vez, o
mesmo grupo desceu as longas escadas até a mulher e o ouro. O rei chorava de
emoção com a riqueza recém adquirida. E a jovem tentava esquecer o trato da
noite passada e aproveitar a companhia de seu amado. “Case-se com esta mulher o
mais rápido possível, meu filho. Não encontrará ninguém como ela jamais.” E
assim os dois fizeram. A cerimônia fora belíssima, com enfeites feitos de puro
ouro e com a presença de diversos nobres deste e outros reinos. E a noiva
então, finalmente teve a oportunidade de rever a família, que estava
extremamente feliz com o acontecimento.
Pouco mais de um mês depois, a
jovem deu a luz ao seu primeiro filho. O que seria mais um acontecimento
memorável para o casal, mas na noite do nascimento da criança, o corcunda
saltitante retornara para receber seu pagamento. O assoalho rangeu sem ser
pisado. As janelas bateram sem serem empurradas. A porta do quarto do casal foi
aberta sem que fosse puxada. E ali estava ele, com um olhar vermelho e maligno.
Aproximou-se do berço da criança, mas antes que o tocasse, a afiada ponta de
uma espada tocou seu pescoço.
“Quem é você criatura? E por que
tenta pegar meu primogênito?” Indagou o príncipe num tom ameaçador. O velho
afastou-se e se apresentou como um antigo amigo da esposa, e toda a verdade
veio à tona. O amor do príncipe por sua mulher não diminuiu, mas ele não
poderia deixar que seu filho fosse tomado. Desferiu um golpe com sua majestosa
espada, mas antes mesmo de aproximar novamente a lâmina do alvo, com um breve
estalar de dedos do pequeno ser a espada tornou-se poeira. “Não há arma no
mundo que possa me impedir de cobrar meu pagamento.” Proferiu orgulhoso.
Indefesos, o casal em instantes
se viu implorando de joelhos por clemência ao seu primeiro filho. Havia nascido
a pouco, mas já era o maior tesouro do príncipe e sua esposa nunca esteve em
paz após fazer o acordo. E sentindo seu ego aumentar, o homenzinho cedeu. Criou
uma aposta, a qual sabia que ganharia. O casal deveria descobrir seu nome
dentro do prazo de três dias. Caso não acertassem, o bebê seria devorado, e os
dois se tornariam seus servos. Sem saída, ambos concordaram, mas acrescentaram
algo. “Porém, se descobrirmos seu nome, você irá desaparecer deste reino e de
nossas vidas. Nunca mais voltará para nos assombrar.” Indiferente a com isso e
portando um sorriso diabólico o velho apertou a mão dos dois e se despediu.
Nenhum dos dois conseguiu mais dormir aquela noite.
Ao nascer do Sol, o príncipe
convocou todos os seus servos e os enviou para a missão de listarem todos os
nomes do reino. Ao cair da noite, ele já tinha em mãos algumas listas com
diversos nomes. O anão corcunda deveria ser chamado por algum daqueles nomes,
assim pensava. Novamente em seu quarto o terror se repetiu e o velho surgiu.
Todos os nomes em mãos foram citados, mas receberam não seguido de não. “Vocês
tem apenas mais dois dias.“ Se despediu depois que todos os nomes foram
ouvidos. Ele nem olhava para o homem, ou a mulher, seu olhar era fixo sobre a
criança.
No segundo dia mais listas de
nomes chegaram. Novos nomes foram ditos e antigos foram repetidos, mas nenhum
deles era o correto. O velho nem mais se dava ao trabalho de responder, apenas
acenava a cabeça enquanto observava a criança e lambia os beiços. Mais tarde
ele se despediu da mesma forma. “Vocês só tem apenas um dia agora. Aproveitem
sua liberdade, pois logo vocês pertencerão a mim.”
Quando o pequeno homem
desapareceu, o príncipe afoito inspecionou cada canto, fresta, dobra e
compartimento de todo o cômodo e não encontrou nada. Mas ao chegar à varanda
pôde encontrou o que procurava. O homem escalava os muros do castelo com
tamanha agilidade para pular em direção a floresta mais próxima do palácio.
“Eis meu plano, querida: Irei
armado e acompanhado de fortes cavaleiros até a floresta onde se encontra
aquele monstro. Lá eu o combaterei e o forçarei a partir.” Proclamou o
príncipe. Mas mesmo com todas as objeções de sua esposa, ele assim fez.
...
Após algumas horas de caminhada
na densa floresta que mal permitira que a luz tocasse o chão, o grupo avistou
uma clareira. Nela havia uma fogueira envolta por parafernálias e objetos
avulsos, mas o que saltava a vista era o bizarro anão magricela saltitando e
cantando. “Criança assada esta noite eu irei comer. Meus novos servos eu irei
torturar. Bom mesmo é ninguém saber que meu nome é Rumpeltiltskin.” Assim que
ouviu seu nome, o príncipe ordenou o ataque. Mas mesmo que pego de surpresa,
nenhum deles foi um oponente problemático. Rumpeltilskin desviava de qualquer
ataque pulando por suas cabeças e estalando os dedos fez as armas e armaduras
de qualquer cavaleiro desaparecer, e quando via oportunidade, cortava a
garganta de qualquer um. Horrorizado, o príncipe tentou fugir, mas distraído
com a confusão, ele tropeçou e bateu a cabeça em alguma tora, desmaiando
imediatamente e caindo sobre um arbusto.
...
Nomes novos, nomes repetidos,
nomes inventados. Nenhum deles era o correto. A jovem mãe, já começava a se
desesperar, sem o marido para reconfortá-la e tendo que lidar com o corcunda
bizarro, ela se sentia trancada no calabouço mais uma vez. Ele já se preparava
para por as mãos no recém-nascido, mas foi interrompido por um grito. “Espere!
Rumpel... Rumpelstiltskin! Este é seu nome!” O velho parou e olhou para trás
perplexo para ver o príncipe imundo entrar no quarto. “Como descobriu? Foi o
diabo que lhe contou! Não é possível!” O assoalho começou a ranger e se
contorcer. A cama começou a tremer. Os vidros se partiram e as pinturas foram
rasgadas.
“Sofri um acidente na minha
emboscada e acabei me atrasando para voltar. Peço perdão, meu amor.” Se dirigiu
o príncipe para sua esposa. “Você! É claro que você foi o responsável! Como não
o vi? Amaldiçoados sejam vocês! Sofrerão a minha ira!” Berrava Rumpelstiltskin.
“Você não é bem vindo aqui, então cumpra sua parte do acordo e parta para
longe, onde nunca mais iremos vê-lo ou nos fará mal.” Ordenou a mulher.
Indignado e tomado de ira, ele praguejou mais e mais enquanto se dirigia a
varanda. As portas arrancaram-se sozinhas de suas dobradiças e ele pulou da
beirada. Depois disso, nunca mais fez acordos ou sequer foi visto naquele reino,
assim foi definido na aposta.
Os dois amantes se entregaram um
ao outro. Suas carícias, porém, não foram muito longe. O próprio rei entrava no
quarto buscando explicações por tamanhos estrondos e estragos nas proximidades
do cômodo. “Na verdade, pouco me importa a explicação. Tenho motivos mais
importantes para estar aqui. Vim atrás de sua esposa, meu amado filho. Creio
necessitar de seus incríveis dons mais uma vez.” Assim falou o rei.
FIM
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