‒ Mas silêncio! Que luz
é esta que se escoa da janela? Será o meu Romeu surgindo do oriente?‒ Ressoava
Julieta ao pé da sacada em uma noite negra, sob um céu sem estrelas.
‒ Ai de mim, Julieta!
Que fazes aqui?‒ Sussurrou Romeu com pavor de ser ouvido por qualquer um
transeunte que pudesse passar despercebido.
‒ Oh, falou! Diga de
novo, anjo que se esgueira por dentre a luz. Diga novamente qualquer coisa só
para que eu tenha o júbilo de ouvir sua voz uma vez mais.
‒ Ah, Julieta! Por que
és tu que me chama? Sabes que não posso estar contigo então por que insistes
tanto em me amar? ‒ Romeu suava frio e sentia o vento gelar seus pés
descobertos e descalços.
‒ Não é uma questão de
escolha, meu caro. Se pensas que esgueiro-me até aqui e ponho-me em perigo por
uma singela vontade? De forma alguma, meu amado. Se aqui estou, é porque a
vontade foi tamanha de te ver. Vontade esta que nem as cercas do teu muro me
impediriam de chegar até aqui.
‒ E agora que estás
aqui, o que fazes? Julieta, eu não descerei essa noite.
‒ Não faz importância
alguma. Sou eu quem irá subir até teu quarto para ver se não és apenas uma
alucinação imprópria da minha cabeça.
‒ Por nada nesse mundo
desejarias que fosse vista aqui, Julieta. Se fores descoberta, não sei o que
será de ti.
‒ Então diga que me
ama, Romeu, e vou embora. Sei muito bem que aí dentro reside um imenso amor por
mim, basta que me digas e eu irei contente, de volta para o meu travesseiro,
sonhar contigo. Mas se mentires, saberei que és covarde e que não és digno dos
meus esforços por amar-te. Vou embora mesmo assim, mas será para não voltar
jamais.
‒ Eu te amo, Julieta!‒
Ele disse permitindo uma lágrima seca escorrer pelo rosto amedrontado. Medo ele
tinha, mas o amor transbordava as barreiras da fobia. ‒ Eu juro pela Lua.
‒ Não jures pela Lua,
essa inconstante que muda de forma todos os meses. Se jurares pela lua, saberei
que teu amor é mutável também.
‒ Por que queres que eu
jure então?
‒ Não jure por nada.
Apenas desça e me beije e terei mais certeza de teu amor do que mil palavras
poderão jurar.
‒ Julieta, sabes que se
desço estarei em grande apuro.
‒ Pensas então que por
estar aqui eu estou livre de qualquer perigo? Estou em tantos apuros quanto
você, Romeu. É uma questão de coragem. Uma questão de amor.
Pela videira que se
estendia na parede de fora da casa, Romeu desceu com muito medo de cair. Seu
medo não era do que encontraria lá embaixo, mas do que não encontraria. E se
fosse apenas uma ilusão? E se Julieta ainda estivesse em sua casa, debaixo de
suas cobertas, sonhando com tolices despropositadas? Romeu devia acreditar que
sua amada a aguardava, senão, de que serviria a esfolamento de suas mãos na
videira áspera?
Quando notou o chão sob
seus pés, Julieta ali estava e eles se encontraram em um lindo beijo. De
repente ficou claro por que as estrelas fugiram do céu. Todas elas
esconderam-se, pois elas, cada uma delas, sabia que não seriam a atração da
noite. Ciumentas, deixaram que a o belo casal iluminasse a noite por si só.
‒ Assim, Romeu é o
amor. Ambos em perigo, ambos perdidos nesta noite sem estrelas. Enquanto você e
eu estivermos em perigo juntos, nosso amor irá ser lindo.
‒ Mas e quando apenas
um de nós estiver em perigo?
‒ Então aquele que está
a salvo irá abraçar o perigo do outro, e nosso amor será perfeito.
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