Desculpe, não quero
mais fingir que estou bem. O que preciso agora é de um banho de solidão.
Vocês gostam de mim
quando eu finjo que acredito que posso ser feliz. É disso que vocês gostam.
Gostam de quando eu acredito que ainda existe felicidade. Gostam de quando eu
rio.
Eu também gostava
disso. Mas é pecado eu querer um pouco mais do que isto afinal?
Não me chamo Onã. Não
sou alguém que consegue encontrar o prazer em si mesmo. Não consigo encontrar a
alegria de que preciso dentro de mim. Pode parecer que sim, mas isso é uma
tremenda falácia.
Eu demorei para aceitar
a verdade. As pessoas demoram para aceitar algumas verdades. Eu também demorei.
Quando eu acreditava
que ainda poderia ser feliz com ela, todos achavam que eu estava feliz, mas era
só fingimento.
Quando se sabe da
verdade, fingir fica mais difícil.
Talvez eu nem estivesse
fingindo. Ou talvez fingir era a minha maneira de ser a minha verdade. Verdade
ou mentira, era o que vocês gostavam.
Gostavam de verdade? Ou
só fingiam?
Eu finjo gostar de muita
gente. Mas nunca fingi gostar de quem eu amo. E se eu a amo, quer dizer que não
finjo, pois.
Nunca fingi que a amo.
Eu finjo que me amo, mas isso eu posso fingir.
Todo o fingimento,
porém é apenas uma forma de fingir a verdade. Ou de afirmar a mentira. Nada de
mentiras. Só fingimentos.
Finjo como um bom
poeta. Finjo como um bom ator. Finjo fingir a dor. Mas por que a dor insiste em
não fingir que existe?
Se ela existe quer
dizer que Ela também existe. Não é fingimento. Não é mentira. É real.
Por trás de cada
fingido há uma realidade verídica. Ela é minha verdade, meu porto-seguro. Não
precisei fingir que estava feliz. É por que eu a amo que me permito ser meu eu
real.
Até que tive que
fingir. Tive que fingir que ainda havia uma chance, por menor que fosse, da
gente ser feliz. Fingi que ela um dia abriria os olhos apaixonada por mim.
Fingi que eu não sabia que era fingimento. Fingi que eu fingia fingir e fingi
de novo então.
Então eu fugi, porque é
isso que faço quando me canso de fingir.
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