segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Vento no litoral

O vento corta a água e brisa em nossos rostos. Eu lembro de como era bom ficar ali, contigo. Molhávamos os pés na alva espuma. Você sorria e eu me perdia nos seus olhos. Na areia, contávamos conchas e jogávamos uma a uma de volta no mar. Toda a preocupação teimava em existir. A água sempre sobe o mais alto que pode antes de cair. A dor não passa até doer o máximo que pode. Há algo de belo no cair das ondas. Há algo de belo na dor também.

Eu me perdi na solidão das ondas. Deixei meu coração se esquecer de como era estar contigo. Tentei me afogar e engolir o máximo de água que meus pulmões suportariam. Eu não queria me perder de você, não pense nisso como uma opção minha. Não passou um dia sem que eu visse seu rosto refletido no mar. Eu então chorei um outro mar, na sua imagem e semelhança. Meu mar de lágrimas salgadas era onde eu queria me afogar. Em mais completo desespero, eu queria esquecer dos nossos momentos felizes.

Se eu pudesse, teria me enterrado vivo, sete palmos debaixo da areia. Por que doía tanto viver sem você? Há três meses atrás você não era nada para mim. Era como uma onda calma, que você mal percebe que veio, que você nem diz que te atingiu. Meu mar estava repleto de ondas assim. Tão calmo que mais parecia um rio ou um lago, sem correnteza. No final das contas, eu não saberia reconhecer você na multidão.

Alguma coisa mudou em mim. Mudou com muita seriedade. Quando eu percebi que tinha mudado, já era tarde demais. Eu já reconhecia suas conchas no meio da areia fervente. Você se tornou aquela onda que atordoa, aquela que derruba os homens e os arrasta para bem longe. Se tornou aquela onda que você lembra. A onda que eu lembrei. A quem estou tentando enganar? Eu pensei que poderia virar as costas e viver sem você. Eu pensei que se eu pudesse não te encontrar, que você sumiria dos meus pensamentos e eu viveria feliz.

O mundo é bem maior do que esta praia, mas é nela que deixei todas as memórias que temos juntos. Prefiro deixar meu coração onde meus olhos possam ver. Não consigo mais acreditar que exista vida sem você. Ontem te encontrei em uma concha. Foi o mar quem trouxe você para mim. Eu entendi o seu recado. Você tinha vindo me buscar. Quando você veio, eu não tive escolha. Fui dar o último mergulho, nadar por uma última vez. Me entreguei nas ondas e foi quando eu te encontrei.


Você estava mesmo no mar, onde você tinha se despedido de mim. Não ouve apneia quando eu afundei. Não ouve grito, não ouve dor. Você disse que o mar tudo curava. Ele cura. Estou indo te encontrar. Nestas águas ou em outras. No fundo da areia ou nas conchas do mar. Não me diga adeus de novo. De tarde, quero te encontrar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário