O vento corta a água e
brisa em nossos rostos. Eu lembro de como era bom ficar ali, contigo.
Molhávamos os pés na alva espuma. Você sorria e eu me perdia nos seus olhos. Na
areia, contávamos conchas e jogávamos uma a uma de volta no mar. Toda a preocupação
teimava em existir. A água sempre sobe o mais alto que pode antes de cair. A
dor não passa até doer o máximo que pode. Há algo de belo no cair das ondas. Há
algo de belo na dor também.
Eu me perdi na solidão
das ondas. Deixei meu coração se esquecer de como era estar contigo. Tentei me
afogar e engolir o máximo de água que meus pulmões suportariam. Eu não queria
me perder de você, não pense nisso como uma opção minha. Não passou um dia sem
que eu visse seu rosto refletido no mar. Eu então chorei um outro mar, na sua
imagem e semelhança. Meu mar de lágrimas salgadas era onde eu queria me afogar.
Em mais completo desespero, eu queria esquecer dos nossos momentos felizes.
Se eu pudesse, teria me
enterrado vivo, sete palmos debaixo da areia. Por que doía tanto viver sem
você? Há três meses atrás você não era nada para mim. Era como uma onda calma,
que você mal percebe que veio, que você nem diz que te atingiu. Meu mar estava
repleto de ondas assim. Tão calmo que mais parecia um rio ou um lago, sem
correnteza. No final das contas, eu não saberia reconhecer você na multidão.
Alguma coisa mudou em
mim. Mudou com muita seriedade. Quando eu percebi que tinha mudado, já era
tarde demais. Eu já reconhecia suas conchas no meio da areia fervente. Você se
tornou aquela onda que atordoa, aquela que derruba os homens e os arrasta para
bem longe. Se tornou aquela onda que você lembra. A onda que eu lembrei. A quem
estou tentando enganar? Eu pensei que poderia virar as costas e viver sem você.
Eu pensei que se eu pudesse não te encontrar, que você sumiria dos meus pensamentos
e eu viveria feliz.
O mundo é bem maior do que
esta praia, mas é nela que deixei todas as memórias que temos juntos. Prefiro
deixar meu coração onde meus olhos possam ver. Não consigo mais acreditar que
exista vida sem você. Ontem te encontrei em uma concha. Foi o mar quem trouxe
você para mim. Eu entendi o seu recado. Você tinha vindo me buscar. Quando você
veio, eu não tive escolha. Fui dar o último mergulho, nadar por uma última vez.
Me entreguei nas ondas e foi quando eu te encontrei.
Você estava mesmo no
mar, onde você tinha se despedido de mim. Não ouve apneia quando eu afundei.
Não ouve grito, não ouve dor. Você disse que o mar tudo curava. Ele cura. Estou
indo te encontrar. Nestas águas ou em outras. No fundo da areia ou nas conchas
do mar. Não me diga adeus de novo. De tarde, quero te encontrar.
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