Era outra vez, uma
jovem menina chamada Alice. Ela tinha cabelos grandes que pareciam ouro, sua
estatura era baixa e seu olhar, distante. Era uma menina doce, amável, bondosa
e muito educada, mas o que mais se destacava em Alice era o fato de estar sempre
em outro mundo. A menina não era simplesmente uma pessoa desligada, ela
realmente vivia em outro planeta. Volta e meia, contava para os pais que havia
caído em um buraco e entrado em um mundo onde uma bebida a encolhia e um
bolinho a fazia crescer; que tinha encontrado uma chave para abrir a porta do
País das Maravilhas e conversado com um coelho extremamente preocupado com
horário. Ela também mencionava que havia tomado chá com um chapeleiro maluco e
discutido com uma rainha um tanto esquentada. Alice passou anos contando essa
mesma história. Seus pais achavam que era história de criança, mas quando Alice
entrou na adolescência e continuou
contando essas histórias, eles ficaram preocupados e levaram Alice a uma clínica
psiquiátrica. Alice frequentou a clínica durante alguns meses, mas de nada
adiantou. O único jeito era levá-la para o hospício.
Ela passou meses lá.
Conversava com outras pessoas e até tentava as ajudar, mas sua personalidade
não mudou. Mesmo no hospício, Alice continuava contando suas histórias.
– Alice, por favor, não brinque com a colher,
ela não é uma lagarta. Alice, pare de falar com as paredes, elas não são
humanas e não conversam com você. Alice, não persiga os coelhos, eles não têm
relógios e nem falam.
– É real! Eu juro que vi!
Ela continuava
conversando com o vento e falando sobre coisas que eram impossíveis de existir.
Agora, a única forma de ver se essas alucinações iam parar seria trancando-a
numa solitária.
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Mais alguns meses se
passaram, e Alice já não era mais a mesma. As - como aqueles que a acompanhavam
em seu tratamento diziam - alucinações que Alice tinha diminuíram. Porém, elas
não pararam por completo, muito pelo contrário, só haviam mudado o rumo da
história. Agora, a garota falava sobre monstros e massacres nesse “País das
Maravilhas” que ela inventou. Dizia que todos haviam enlouquecido, e agora
matavam uns aos outros. E essas histórias evoluíam cada vez mais.
De noite, era possível
ouvir os gritos e choros de Alice. Seu riso era histérico, seu corpo tremia
todo na maior parte do tempo e ela olhava para os lados como se alguém a
estivesse observando. Seu comportamento havia mudado completamente. Cada vez
ficava mais difícil se comunicar com a garota, pois raramente ela respondia as
perguntas feitas a ela.
Depois de mais alguns
exames, Alice foi diagnosticada com esquizofrenia.
A menina havia
enlouquecido de vez e as alucinações não paravam. Talvez o hospício tenha
piorado sua situação, mas agora Alice já não podia mais sair de lá.
– Sangue…. Sangue….
Costumava se contorcer
enquanto dormia, e quando era acordada tentava enforcar os médicos e
enfermeiras que tentavam ajudá-la. Seus pais já não podiam mais chegar perto
dela, mas também já não visitavam mais a menina por se recusarem a acreditar
que aquela mulher louca era sua filha. Todos os dias, a rotina era a mesma, com
exceção de uma noite….
Exatamente nessa noite,
parece que os vigilantes estavam com sono. Os corredores estavam vazios e o
lugar estava mais silencioso que o normal. Apenas se ouvia gritos abafados
vindos de algumas salas e pedidos de socorro. Alice vagava pelo lugar olhando
para todos os cantos. Ela parecia estar a procura de algo.
Após alguns minutos sem
ser notada, os sons dos alarmes invadiram o local. Mas já era tarde demais. A
garota foi cercada por médicos, psiquiatras e seguranças na cozinha enquanto
segurava um facão.
– Me desculpe! A Rainha Vermelha pediu para
cortar-lhes as cabeças.
Então, as luzes se
apagaram.
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Naquela noite, houve o
maior massacre já ocorrido na história de um hospício. Todos os que estavam
presentes no local foram mortos. Para ser mais precisa, eles foram decapitados.
Não se sabe como Alice saiu da solitária, nem o porquê de ter feito isso. Seu
paradeiro até hoje é desconhecido. Talvez ela tenha caído em um buraco e
encontrado aquele lindo lugar que ela costumava dizer que era o País das
Maravilhas. Quem sabe?
Lara, você me dá medo
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