sábado, 21 de março de 2015

Era Outra Vez: Alice no País das Maravilhas

Era outra vez, uma jovem menina chamada Alice. Ela tinha cabelos grandes que pareciam ouro, sua estatura era baixa e seu olhar, distante. Era uma menina doce, amável, bondosa e muito educada, mas o que mais se destacava em Alice era o fato de estar sempre em outro mundo. A menina não era simplesmente uma pessoa desligada, ela realmente vivia em outro planeta. Volta e meia, contava para os pais que havia caído em um buraco e entrado em um mundo onde uma bebida a encolhia e um bolinho a fazia crescer; que tinha encontrado uma chave para abrir a porta do País das Maravilhas e conversado com um coelho extremamente preocupado com horário. Ela também mencionava que havia tomado chá com um chapeleiro maluco e discutido com uma rainha um tanto esquentada. Alice passou anos contando essa mesma história. Seus pais achavam que era história de criança, mas quando Alice entrou na adolescência e  continuou contando essas histórias, eles ficaram preocupados e levaram Alice a uma clínica psiquiátrica. Alice frequentou a clínica durante alguns meses, mas de nada adiantou. O único jeito era levá-la para o hospício.
Ela passou meses lá. Conversava com outras pessoas e até tentava as ajudar, mas sua personalidade não mudou. Mesmo no hospício, Alice continuava contando suas histórias.
 – Alice, por favor, não brinque com a colher, ela não é uma lagarta. Alice, pare de falar com as paredes, elas não são humanas e não conversam com você. Alice, não persiga os coelhos, eles não têm relógios e nem falam.
 – É real! Eu juro que vi!
Ela continuava conversando com o vento e falando sobre coisas que eram impossíveis de existir. Agora, a única forma de ver se essas alucinações iam parar seria trancando-a numa solitária.
----------------
Mais alguns meses se passaram, e Alice já não era mais a mesma. As - como aqueles que a acompanhavam em seu tratamento diziam - alucinações que Alice tinha diminuíram. Porém, elas não pararam por completo, muito pelo contrário, só haviam mudado o rumo da história. Agora, a garota falava sobre monstros e massacres nesse “País das Maravilhas” que ela inventou. Dizia que todos haviam enlouquecido, e agora matavam uns aos outros. E essas histórias evoluíam cada vez mais.
De noite, era possível ouvir os gritos e choros de Alice. Seu riso era histérico, seu corpo tremia todo na maior parte do tempo e ela olhava para os lados como se alguém a estivesse observando. Seu comportamento havia mudado completamente. Cada vez ficava mais difícil se comunicar com a garota, pois raramente ela respondia as perguntas feitas a ela.
Depois de mais alguns exames, Alice foi diagnosticada com esquizofrenia.
A menina havia enlouquecido de vez e as alucinações não paravam. Talvez o hospício tenha piorado sua situação, mas agora Alice já não podia mais sair de lá.
 – Sangue…. Sangue….
Costumava se contorcer enquanto dormia, e quando era acordada tentava enforcar os médicos e enfermeiras que tentavam ajudá-la. Seus pais já não podiam mais chegar perto dela, mas também já não visitavam mais a menina por se recusarem a acreditar que aquela mulher louca era sua filha. Todos os dias, a rotina era a mesma, com exceção de uma noite….
Exatamente nessa noite, parece que os vigilantes estavam com sono. Os corredores estavam vazios e o lugar estava mais silencioso que o normal. Apenas se ouvia gritos abafados vindos de algumas salas e pedidos de socorro. Alice vagava pelo lugar olhando para todos os cantos. Ela parecia estar a procura de algo.
Após alguns minutos sem ser notada, os sons dos alarmes invadiram o local. Mas já era tarde demais. A garota foi cercada por médicos, psiquiatras e seguranças na cozinha enquanto segurava um facão.
 – Me desculpe! A Rainha Vermelha pediu para cortar-lhes as cabeças.
Então, as luzes se apagaram.
--------------------------------------

Naquela noite, houve o maior massacre já ocorrido na história de um hospício. Todos os que estavam presentes no local foram mortos. Para ser mais precisa, eles foram decapitados. Não se sabe como Alice saiu da solitária, nem o porquê de ter feito isso. Seu paradeiro até hoje é desconhecido. Talvez ela tenha caído em um buraco e encontrado aquele lindo lugar que ela costumava dizer que era o País das Maravilhas. Quem sabe?


Um comentário: