O jovem Rafael
terminava o seu mais recente poema, mais uma calorosa declaração de amor para
sua amada Cecília. Já tinha se tornado um rito mostrar para ela as tão sinceras
palavras que escrevia no final da tarde. Por mais que ela nunca tivesse
recebido a confirmação de que ela era o amor escrito nas declarações, ela
esperava pelo dia em que ele teria a coragem de lhe dizer que a amava. Os dois
corações viviam uma história de declarações subentendidas, mas eram românticos
demais para se declararem um para o outro.
Certo dia, Cecília leu
o texto que Rafael escreveu. Ficou encantada e emocionada, então chorou. Chorou
porque se percebeu apaixonada, e porque soube, naquele mesmo momento, que, se
aquelas palavras não tivessem sido escritas para ela, estaria para sempre
condenada a viver uma solidão amargurada, uma tristeza maldita que nunca iria
embora. Quando Rafael viu suas palavras cortarem o coração da garota que tanto
amava. Sentiu um imenso remorso por suas palavras destruírem a felicidade de
quem mais lhe importava.
No dia seguinte, não
houve mais poesia. Rafael jurou pra si mesmo não mostrar mais um verso sequer.
Nem ao menos um haicai improvisado, nem uma rima, nenhum soneto. Se suas
palavras machucavam aquela que mais importava. Agora, ele não machucaria
ninguém. Cecília esperou ansiosa, e quando viu que Rafael não viria, sentiu-se
triste e amargurada. Talvez aquelas poesias não lhe pertencessem. Talvez
tivesse imaginado aquele amor porque lhe convinha imaginar.
E foi então que, por
falta de coragem, os dois destruíram o que poderia ser um belo amor. Rafael foi
viver uma vida sem alguém para ler suar poesias e Cecília sem alguém para
escrevê-las. Quando pensarem em tudo o que se foi, ele provavelmente chegará à
conclusão de que estava certo em deixar que ela partisse. Ela também não o
culparia por nunca ter amado-a e acreditarão com todas as suas forças que foram
felizes para sempre.
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