quarta-feira, 9 de março de 2016

A última poesia para Cecília

O jovem Rafael terminava o seu mais recente poema, mais uma calorosa declaração de amor para sua amada Cecília. Já tinha se tornado um rito mostrar para ela as tão sinceras palavras que escrevia no final da tarde. Por mais que ela nunca tivesse recebido a confirmação de que ela era o amor escrito nas declarações, ela esperava pelo dia em que ele teria a coragem de lhe dizer que a amava. Os dois corações viviam uma história de declarações subentendidas, mas eram românticos demais para se declararem um para o outro.

Certo dia, Cecília leu o texto que Rafael escreveu. Ficou encantada e emocionada, então chorou. Chorou porque se percebeu apaixonada, e porque soube, naquele mesmo momento, que, se aquelas palavras não tivessem sido escritas para ela, estaria para sempre condenada a viver uma solidão amargurada, uma tristeza maldita que nunca iria embora. Quando Rafael viu suas palavras cortarem o coração da garota que tanto amava. Sentiu um imenso remorso por suas palavras destruírem a felicidade de quem mais lhe importava.

No dia seguinte, não houve mais poesia. Rafael jurou pra si mesmo não mostrar mais um verso sequer. Nem ao menos um haicai improvisado, nem uma rima, nenhum soneto. Se suas palavras machucavam aquela que mais importava. Agora, ele não machucaria ninguém. Cecília esperou ansiosa, e quando viu que Rafael não viria, sentiu-se triste e amargurada. Talvez aquelas poesias não lhe pertencessem. Talvez tivesse imaginado aquele amor porque lhe convinha imaginar.


E foi então que, por falta de coragem, os dois destruíram o que poderia ser um belo amor. Rafael foi viver uma vida sem alguém para ler suar poesias e Cecília sem alguém para escrevê-las. Quando pensarem em tudo o que se foi, ele provavelmente chegará à conclusão de que estava certo em deixar que ela partisse. Ela também não o culparia por nunca ter amado-a e acreditarão com todas as suas forças que foram felizes para sempre.


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